ROSANA HESSEL
A processo de recuperação da economia global da recessão provocada pela pandemia de covid-19 vai ser lento e gradual, com a maioria dos países só conseguindo voltar ao patamar pré-crise em 2022, de acordo com estimativas do BNP Paribas.
O banco francês, que está mais otimista do que os organismos internacionais em relação ao tamanho do tombo do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e do Brasil, não vê uma recuperação rápida, conhecida pela curva em “V”, como vem sendo preconizado pelos menos pessimistas do mercado. “A gente não trabalha com um cenário de recuperação em “W”, com um abre e fecha da economia, mas estamos prevendo um ritmo de retomada mais lento a partir do quatro trimestre”, destacou Gustavo Arruda, economista-chefe do BNP no Brasil, durante uma videoconferência com jornalistas, nesta quarta-feira (08/07), para comentar o relatório trimestral com análises macroeconômicas do BNP.
De acordo com o economista, o crescimento no terceiro trimestre será forte, mas em cima de uma base pequena do segundo trimestre, que foi o fundo do poço. As previsões da instituição mostram que, a partir do quarto trimestre deste ano, as taxas de crescimento serão menos robustas, o que vai fazer com que o processo de retomada seja mais gradual. “O pior momento da crise já passou, mas o processo de recuperação global será lento. Nossa percepção é que o mundo só vai conseguir voltar ao nível pré-crise em 2022”, frisou Arruda.
Os países emergentes, por exemplo, devem registrar taxa trimestral média de crescimento em torno de 1% ao longo de 2021, e, a América Latina vai ter um desempenho abaixo desse patamar no mesmo período, conforme os dados do BNP. Segundo Arruda, Estados Unidos e Alemanha, por terem mais espaço fiscal, devem se recuperar mais rapidamente do que os demais países. De acordo com o economista, as projeções do banco indicam que a maior economia da Europa conseguirá recuperar o patamar pré-crise no fim de 2021 enquanto a Itália, um dos países mais afetados pela covid-19 na Europa, vai atravessar um processo de recuperação bem mais lento.
Pelas previsões do BNP, o PIB global deverá encolher 3,7%, em 2020. Enquanto isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estimam retração de 4,9%, de 5,2% e de 6,0%, respectivamente. Para 2021, as previsões passam, pela ordem, para taxas de crescimento de 5,6%, de 5,4%, de 4,2% e de 5,2%.
No caso do PIB brasileiro, o BNP prevê queda de 7%, em 2020, e expansão de 4%, em 2021. “ O Brasil vai ter que encontrar a recuperação com um debate interno bastante particular, com o desafio de conter a tentação de aumentar o gasto público em 2021. O governo precisará focar na agenda de médio prazo, com reformas e concessões, para gerar resultado mais à frente”, afirmou.
Para o economista, os riscos políticos no Brasil, apesar de não estarem na conta das previsões para a economia brasileira, não podem ser ignorados. Ele admitiu que uma piora na governabilidade do presidente Jair Bolsonaro e na relação com o Legislativo que é bastante tumultuada pode atrapalhar a agenda de reformas parciais que precisam ser discutidas pelos parlamentares. “O aumento da incerteza política pode atrapalhar o avanço de uma agenda mais positiva para o crescimento no Congresso e atrasar o prazo de recuperação da economia e da melhora no ambiente de negócios e, com isso, atrapalhar as nossas projeções”, destacou.
As estimativas do BNP preveem um rombo nas contas públicas acima de 10% do PIB, com a dívida pública bruta passando de 93% do PIB, em 2020, e de 95% do PIB, em 2021. “A mensagem que o governo precisa passar sobre a dinâmica da dívida e quando ela vai se recuperar é fundamental. Um dos ganhos da aprovação da reforma da Previdência foi eliminar o risco de uma dívida explosiva. Não estaríamos falando em Selic na casa de 2,25% ao ano sem essa reforma. Agora, para onde essa dívida vai é uma mensagem que o governo precisa passar com transparência”, afirmou.
Na avaliação de Arruda, apesar da piora no quadro fiscal, o governo não corre risco de insolvência como no passado, porque a maior parte da dívida é interna, diminuindo as dificuldades para o financiamento do setor público. “A nossa dívida é local e isso ajuda a reduzir o prêmio de risco dos títulos públicos”, explicou.
Veja abaixo o comparativo das previsões do BNP com outros organismos globais: