PALAVRAS NÃO BASTAM

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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve ter levado um susto ontem. Não bastasse ter se deparado com uma Dilma Rousseff 13 quilos mais magra, ouviu da presidente brasileira, durante debate na Cúpula das Américas, no Panamá, um discurso impensável meses atrás. A petista enfatizou que, “sem crescimento sustentado, contínuo, sistemático”, não há como fazer do Brasil um país de classe média. Disse mais: que o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) foi mais importante para a inserção de 44 milhões de pessoas no mercado de consumo do que as políticas sociais. Ela sempre ressaltou que crescimento econômico não é o mais importante para o sucesso de um país.

Não será tarefa trivial retomar o crescimento da economia brasileira. Por uma razão simples: ao longo do primeiro mandato, tudo o que Dilma fez foi destruir as bases de expansão da atividade. Ao manter a inflação próxima ou acima do teto da meta, de 6,5%, minou a confiança dos consumidores e tirou a previsibilidade que os empresários tanto precisam para tocar seus negócios, sobretudo os investimentos. Em meio à carestia, provocou forte desarranjo no setor elétrico, ao acreditar que, por meio de canetada, poderia definir o preço da eletricidade. Tanto não pôde que, apenas nos últimos 12 meses, a conta de luz ficou, na média, 60% mais cara.

Para compensar os erros na condução da política econômica, a presidente abriu os cofres sem qualquer critério, jogando mais lenha sobre a inflação. Na tentativa de esconder a gastança, recorreu aos mais diversos truques contábeis para transformar rombos em superavits fiscais. Alimentou, com isso, uma onda de desconfiança sem precedentes no país. Dilma chegou ao ponto de destruir o maior dos trunfos do partido dela, o PT: a desigualdade social, que caiu por anos seguidos, voltou a subir, o que levou milhares de pessoas novamente para a pobreza.

Pelos cálculos do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, diante de todo passivo acumulado nos últimos quatro anos e do esforço que será necessário para tirar a atividade do atoleiro, o PIB de 2015 terá queda de 1,5%. Até a semana passada, ele estimava retração de 1,1%. “A divulgação dos dados do ano passado mostrou a economia totalmente estagnada. E as perspectivas para 2015 se deterioram”, diz. Ele acrescenta que a confiança dos empresários continua caindo em ritmo acelerado e os dados do mercado de trabalho refletem atividade fraca — a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil deve encerrar o ano em 7,3%.

Também 2016 não será um ano fácil, no entender de Goldfajn. Por isso, ele reduziu a projeção de crescimento para o PIB, de 1,1% para 0,7%. A fragilidade da economia, destaca, será um entrave para que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, cumpra as metas de superavits primários tanto neste ano quanto no próximo, de 1,2% e 2% do PIB, respectivamente. A previsão do Itaú Unibanco apont economia de 0,8% do Produto para o pagamento de juros em 2015 e de 1,5% no ano que vem.

Apesar dos resultados ruins, é importante que Dilma não recue na proposta de resgatar a economia. A pressão será grande, principalmente por causa do desemprego, mas é fundamental que o país arrume a casa. Só assim a presidente poderá garantir aos brasileiros o que disse diante de um atônito Obama: teremos crescimento sustentado, contínuo, sistemático.

Varejo retraído

» O economista-chefe do Santander, Maurício Molan, alerta que o aumento do desemprego baterá firme no varejo, que já anda fraquejando por causa da alta dos juros e da inflação resistente. Nas contas dele, as vendas de fevereiro, que serão reveladas na terça-feira pelo IBGE, mostrarão alta de 0,7% ante janeiro e queda de 1,4% contra o mesmo mês de 2014.

Trimestre no vermelho

» O varejo fraco se somará à retração da indústria. Assim, acredita Maurício Molan, o IBC-Br, índice do Banco Central que mede o nível da atividade e serve como prévia do PIB, teve retração de 0,2% na passagem de janeiro para fevereiro e de 4% na comparação anual.

FGTS para terrenos

» Responsável pela regulação e pela fiscalização de corretores de imóveis e de imobiliárias no país, o Sistema Cofeci-Creci tem atuado no Congresso para ampliar o uso do Fundo de Garantia doTempo de Serviço (FGTS). Quer liberar os recurso para a compra de terrenos para futuras edificações residenciais. “Estamos apoiando o Projeto de Lei nº 3.439/200, que regulamenta a utilização do FGTS pelo trabalhador”, diz o presidente do Cofeci-Creci, João Teodoro da Silva. Atualmente, a aplicação do fundo está restrita à compra e ao financiamento de imóveis residências já prontos.

R$ 5,7 bilhões travados

» Está completando um ano e meio a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de impedir a realização dos leilões de 29 terminais portuários no Pará e em Santos, que travou investimentos de R$ 5,7 bilhões. Como os estudos de viabilidade técnica e econômica vencerão, o processo voltará à estaca zero.

Licitação inviável

» Para a Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), a decisão do governo de agrupar as áreas ofertadas à iniciativa privada em grandes blocos tem se mostrado inviável. A entidade defende licitação em separado e a renegociação dos contratos pré-1993 como forma de agilizar a liberação de investimentos no setor.

Brasília, 11h45min

Vicente Nunes