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inflação Crédito: Marilia Lima/Esp. CB/D.A. Press inflação

Países emergentes não devem tolerar conviver com inflação, segundo BNP

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Enquanto os bancos centrais dos países desenvolvidos estão mais tolerantes com a inflação, que deve aumentar daqui para frente devido aos pacotes fiscais implementados no combate aos efeitos econômicos da pandemia da covid-19, os países emergentes não têm espaço fiscal nem monetário para fazerem o mesmo, de acordo com dados do BNP Paribas.

 

“Os bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos estão dispostos a correr o risco de uma inflação um pouco acima da meta”, afirmou, afirmou Gustavo Arruda, economista-chefe para América Latina do BNP Paribas. Durante videoconferência com jornalistas nesta terça-feira (13/04), onde apresentou as novas perspectivas para a economia global do banco francês, ele avaliou que essa discussão de volta da inflação no mundo, a chamada reflation, é um risco que os países emergentes, de forma geral, não conseguem correr.

 

O economista lembrou que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) trabalha com uma média de inflação e, por isso, tem uma “margem de manobra maior“ para lidar com a inflação acima da meta, ao contrário do Banco Central do Brasil, que trabalha com meta anual de inflação.

 

“Os bancos centrais dos países desenvolvidos conseguem aceitar o risco de conviver com um pouco de inflação, mas todos os países emergentes que dependem de investimento internacional, e que já tiveram experiências ruins com inflação, não devem fazer o mesmo”, aconselhou.  Assim como o Banco Central do Brasil, os do México e da Turquia também já iniciaram os processos de normalização (de alta) das taxas de juros, segundo o analista.  “Não consigo imaginar que o BC do Brasil esteja disposto a correr o riscos com a inflação”, frisou Arruda. Ele destacou que o debate entre emergentes conservadores e desenvolvidos mais dispostos a correr risco ainda tende a crescer.

 

De acordo com ele, os pacotes fiscais como o dos Estados Unidos, que injetaram US$ 1,9 trilhão e prometem US$ 2 trilhões de investimentos em infraestrutura nos próximos oito anos, devem impulsionar o PIB global nesse mesmo período. E, por conta disso, ele reconheceu que as projeções do BNP estão bastante otimistas para a economia mundial, “apesar de as políticas expansionistas de países desenvolvidos pressionarem a inflação de curto e médio prazos”.

 

Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) de 2% para 2,75%  ao ano, em meio a um cenário de piora na atividade econômica devido ao agravamento da pandemia no país.  O economista do BNP prevê que o BC deverá fazer um ciclo de normalização parcial da Selic ao longo de 2021, “para não prejudicar o processo de retomada da atividade econômica”, uma vez que a alta dos preços das commodities estão tendo um efeito inverso no PIB, que encolhe quando os preços sobem, em um claro descolamento entre esses dois fatores. Por conta disso, o BNP está prevendo que o BC deverá elevar a Selic para 5% no fim do ano, “e só pensará em uma normalização maior quando a economia estiver mais forte”, de acordo com Arruda. Pelas projeções dele, a taxa básica encerrará 2022 em 6,5% anuais.

 

Pelas projeções do BNP o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá encerrar este ano com alta de 6,5%, passando para 4%, no fim de 2022.  Essas estimativas superam a meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,75%, neste ano, e de 3,50%, no ano que vem.