Conforme dados levantados pela Associação Contas Abertas junto ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), apenas entre os dias 22 de junho – data da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro – e segunda-feira (27/6), foram pagos R$ 4,3 bilhões em emendas do relator, o equivalente a 86% dos R$ 4,97 bilhões pagos no 6º mês do ano. Esse é o maior valor registrado para esse tipo de emenda em qualquer mês do ano, desde 2020, de acordo com o especialista em contas públicas Gil Castello Branco, secretário-geral e fundador da Contas Abertas. Ele lembrou que a diferença, de R$ 675,1 milhões, foi referente ao pagamento de restos a pagar de emendas de anos anteriores.
Pelas estimativas da entidade, desde janeiro até ontem, o total de emendas do relator empenhadas estava em R$ 5,7 bilhões, ou seja, 34,7% do total previsto no Orçamento deste ano para as emendas do relator: R$ 16,5 bilhões. O dado é bem próximo à estimativa do empenho dessas emendas feita pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), de R$ 5,8 bilhões.
As polêmicas emendas do relator-geral, ou RP9, criadas no governo Jair Bolsonaro (PL), são também conhecidas como “orçamento secreto”, por não haver muita transparência sobre os dados de que parlamentar é beneficiado e para onde vai o dinheiro, conforme reportagem do jornal O Estado de São Paulo.
“Houve uma enxurrada no pagamento de emendas do relator-geral nos últimos dias e eles ocorreram durante a movimentação da oposição para a instauração da CPI do MEC, após a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro”, alertou Castello Branco, em entrevista ao Blog. “O governo pode até justificar a lei eleitoral como um dos motivos para o aumento no fluxo de pagamentos dessas emendas, mas o movimento desde 22 foi bastante atípico se compararmos com os anos anteriores”, destacou.
Ao ser questionado sobre o forte aumento do volume de pagamento de emendas do relator nos últimos dias, o líder do governo, senador Carlos Portinho (PL-RJ), negou qualquer espécie de “toma-lá-dá-cá” para barrar a CPI do MEC. Ele também descartou a existência de movimento do governo para a retirada de assinaturas para a criação da comissão. São necessárias, no mínimo, 27 assinaturas e o pedido da CPI foi protocolado com 31 signatários.
“Não tem ‘toma-lá dá-cá’ no Senado. Em nenhum momento houve movimento para retirada de assinatura nenhuma. E, sobre esse assunto (dos pagamentos), para mim, não me diz nada. Não tenho participação, ingerência ou interesse”, afirmou Portinho. O líder ainda frisou que não tem RP9 de valor extraordinário. “As minhas são transparentes e publicadas no no meu site”, garantiu.
Procurados, o Ministério da Economia, que é responsável pelo pagamento das emendas por meio do Tesouro Nacional, e o MEC, ainda não comentaram o assunto.
Veja os quadros com os dados levantados pela Contas Abertas enviados ao Blog: