A presidente Dilma Rousseff está convencida de que os investidores vão comprar o pacote de bondades que vem sendo preparado pela equipe do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para estimular a economia. A visão do Palácio do Planalto é de que há o entendimento, entre os agentes de mercado, de que não é possível o governo assistir, impassível, à atividade afundar sem que nada seja feito para evitar nova queda do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano perto de 4%.
Faz parte do jogo o Planalto difundir uma imagem positiva do pacote que está por vir. Mas poucos acreditam no sucesso das medidas que têm sido colocadas na mídia como forma de testar o humor do mercado. A base dos estímulos está no crédito, que, desde o ano passado, deixou de ser um importante motor para a atividade. Além de os financiamentos estarem caros, empresas e famílias estão atoladas em dívidas.
Nada, porém, inquieta mais os especialistas do que o fato de Barbosa garantir que os estímulos não terão custos para o Tesouro Nacional. Por mais que o ministro bata nesta tecla, a desconfiança é enorme. A maioria dos investidores acredita que tanto os incentivos às exportações quanto os oferecidos aos setores rural e habitacional terão impacto fiscal. Não há engenharia que consiga evitar subsídios nas taxas de juros que vêm sendo definidas para os empréstimos.
Vícios de origem
O problema maior do Brasil hoje não é a falta de crédito. É a ausência de credibilidade. O histórico do governo é ruim demais. Desde que assumiu o comando do país, a presidente Dilma optou por caminhos errados. Apesar de todos os alertas, ela continuou sacrificando conquistas importantes, como o controle da inflação e o ajuste fiscal. Não será desta vez que conseguirá o apoio para medidas que já demonstram ter vícios de origem, a começar por ter como mentor o homem que defendeu, com todas as forças, a nova matriz econômica que levou a economia para o buraco.
Se realmente querem tirar o Brasil do atoleiro, Dilma e Barbosa deveriam começar pela apresentação de um pacote fiscal factível e consistente. Esse é o grande nó a ser desatado. Não será mexendo em regras de empréstimos direcionados, liberando o Banco do Brasil de recolher recursos ao Banco Central ou mudando fatores de ponderação de crédito, que a grande maioria da população nem sabe o que é, que a economia retomará o fôlego. O país precisa é de um governo confiável, compromissado com a estabilidade econômica. Não há mais espaço para remendos.
A desconfiança em relação ao que está sendo preparado pela Fazenda é tamanha, que nem o BC está disposto a pagar para ver. Tanto que, mesmo dividido, discute a possibilidade de aumentar a taxa básica de juros (Selic), de 14,25%, na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). Se realmente estivesse certo de que a Fazenda fará o ajuste fiscal prometido, de minguado 0,5% do PIB, certamente a instituição comandada por Alexandre Tombini pagaria o preço de esperar os resultados do ajuste nas contas para tomar uma decisão. Melhor: a alta dos juros nem estaria no radar.
Mão amiga
Mais do que esperar pela ajuda da Fazenda, o BC talvez possa contar com a mão amiga do Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária dos Estados Unidos. O presidente da unidade de Saint Louis, James Bullard, visto como uma das vozes mais confiáveis da instituição norte-americana, está pregando que o processo de aumento de juros na maior economia do planeta seja interrompido. Ele acredita que, com o recente tombo do petróleo, os preços da energia nos EUA vão cair mais e impedir que a inflação suba para os 2% esperados pelo Fed.
A próxima reunião do Fed ocorrerá uma semana depois do encontro do Copom. Se o BC norte-americano adiar a elevação dos juros, o dólar deve perder valor em relação às moedas de países emergentes. Um real mais valorizado significa menos pressão sobre a inflação. Não se pode esquecer de que, desde a última reunião do Copom, em novembro do ano passado, a moeda norte-americana subiu quase 7%.
Nesse cenário, na pior das hipóteses, o BC poderia subir a Selic na semana que vem e dar apenas mais uma alta na reunião seguinte do Copom e encerrar o arrocho monetário. Com tantas possibilidades sobre a mesa dos diretores do BC, os próximos dias prometem muita emoção. E o pacote do governo está fadado a se tornar um mero coadjuvante, envolto pela desconfiança.
Brasília, 08h30min