Todos, sem exceção, no entorno do presidente, consideraram as falas de Guedes totalmente inapropriadas neste momento. Mas, mais do que o ministro ter admitido que estava havendo uma debandada na equipe econômica, o que realmente foi considerado avassalador por Bolsonaro foi o subordinado ter levantado a possibilidade de impeachment dele.
A ministros palacianos e a pelo menos dois interlocutores, Bolsonaro admitiu que pode acelerar a saída de Paulo Guedes do governo. A convivência entre os dois ficou muito complicada. Para Bolsonaro, o ministro passou dos limites ao levantar suspeitas de estouro do teto de gastos neste ano. Segundo Bolsonaro, como 2020 é excepcional e todos os limites fiscais foram estourados, o que se quer é usar sobras de recursos do Orçamento para obras, como forma de acelerar a economia, arrasada pela pandemia do novo coronavírus.
“Não se falou em descumprir o teto de gastos em 2021. Guedes sabe disso. O que está sendo pedido são verbas para este ano, nada demais”, diz uma fonte ao Blog. Ele ressalta que, pelos cálculos da própria equipe econômica, há uma sobra de pelo menos R$ 30 bilhões no Orçamento deste ano. “Se já destinarmos R$ 5 bilhões para tocar obras que estão paradas já será muito bom. É isso o que o presidente quer”, acrescenta.
Saída de Guedes provocará tumulto nos mercados
Bolsanaro reconhece que a saída de Guedes do governo causará tumultos no mercado financeiro, mas os efeitos, para ele, serão passageiros, pois o substituto do ministro terá a garantia de que os compromissos do governo com o ajuste fiscal serão mantidos. O nome mais citado no Palácio do Planalto como sucessor de Guedes é o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Para um ministro, os números mais recentes da pesquisa Datafolha, que mostram uma alta substancial na aprovação do governo, dão força para que Bolsonaro leve adiante mudanças no comando do Ministério da Economia. “A relação entre o presidente e Guedes esgarçou-se demais. Será muito difícil ele se reconciliar com o Posto Ipiranga”, ressalta.
Outro ponto que desgastou ainda mais Guedes foi o fato de ele ter dado declarações tão contundentes ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que não é bem-quisto no Planalto. Maia é o responsável por tirar da gaveta os mais de 50 pedidos de impeachment de Bolsonaro que estão parados na Câmara. “Foi pesado demais o que Guedes fez”, afirma outra fonte.
Brasília, 10h01min