ROSANA HESSEL
Na véspera do Dia Internacional dos Trabalhadores, a Oxfam divulga, na noite desta terça-feira (30/4) um relatório nada animador para os pobres assalariados e bastante positivo para os sócios ou acionistas que recebem lucros e dividendos sem precisarem trabalhar.
Conforme levantamento feito pela entidade em 31 países, entre 2020 e 2023, a desigualdade salarial só aumentou, pois os pagamentos de dividendos cresceram 15 vezes mais do que os salários dos trabalhadores.
De acordo com a análise da Oxfam, sobre os dados da Global Living Wage Coalition (GLWC) de países da África, Ásia e América Latina revela que, após o ajuste pela inflação, os pagamentos totais de dividendos aumentaram 45% (US$ 195 bilhões) em 31 países entre 2020 e 2023, enquanto os salários cresceram apenas 3% no mesmo período. Pelo cálculo da entidade,
Segundo a GLWC, apenas dois países pesquisados têm um salário mínimo acima de um salário digno – uma remuneração que, segundo a entidade, permite que os trabalhadores supram suas necessidades básicas, como moradia, alimentação, saúde, vestuário e transporte.
Os salários mínimos, em média, fornecem apenas 38% do salário necessário para um salário digno. O salário mínimo de Bangladesh fornece apenas 6% de um salário digno e, em Gana, fornece apenas 12%, conforme o estudo.
O estudo ainda mostra que um em cada cinco trabalhadores no mundo recebe um salário abaixo da linha de pobreza de US$ 3,65 por dia. Além disso, 66% dos trabalhadores em países de baixa renda recebem salários de miséria, nível que não ultrapassa essa linha de pobreza . Isso representa um aumento de 1% desde 2020, quando houve a reversão de um longo período de declínio. O Afeganistão (22%) e o Sri Lanka (9%) registraram alguns dos maiores aumentos na taxa de subemprego atingindo a linha de pobreza de US$ 6,85 por dia.
O estudo da Oxfam estima que o 1% mais rico, que atualmente detém 43% dos ativos financeiros globais, recebeu, em média, US$ 9 mil por ano em forma de dividendos, no ano passado. Para que um trabalhador comum ganhasse esse mesmo valor em salário seriam necessários oito meses de jornada.
Nesse intervalo pesquisado, a remuneração nesses países teve uma queda de 3%, com exceção da China, onde ocorreu a maior parte do crescimento salarial, segundo o relatório da organização não-governamental.
“Os lucros das empresas e os pagamentos aos acionistas aumentaram exponencialmente, enquanto os salários permanecem baixos. Milhões de pessoas têm empregos que as mantêm em um ritmo de trabalho intenso, mas que não garantem recursos suficientes para alimentação, remédios e outros itens básicos. Os super-ricos não ganham suas mega-fortunas ‘trabalhando’ — eles tiram esse dinheiro das pessoas que trabalham”, disse o diretor executivo interino da Oxfam International, Amitabh Behar, em nota divulgada à imprensa.
Behar defendeu que nenhuma empresa deveria pagar dividendos aos acionistas ricos “a menos que esteja remunerando todos os seus trabalhadores com um salário digno”. “Os governos devem limitar os pagamentos aos acionistas, apoiar os sindicatos e estabelecer leis que garantam salários dignos. Deveríamos estar recompensando o trabalho, não a riqueza”, acrescentou.
A Oxfam utiliza como base de dados o Janus Henderson Global Dividend Index, índice que analisa as 1.200 maiores empresas do mundo, representando 90% dos dividendos totais pagos no planeta. De acordo com indicador, os lucros totais das empresas estão à beira de ultrapassar o recorde histórico de US$ 1,66 trilhão alcançado no ano passado. A Janus Henderson prevê que os dividendos atingirão um novo recorde de US$ 1,72 trilhão em 2024, aumento de 3,6% As 1,8 mil empresas restantes representam os outros 10%.