ROSANA HESSEL
Está ficando constrangedor para interlocutores do ministro da Economia, Paulo Guedes, ouvir o otimismo que só ele tem sobre recuperação da economia pós-pandemia da covid-19. Nesta quinta-feira (14/05), o ministro insistiu em falar que a curva de retomada da atividade será em V indicando um crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB), na reunião de empresários que ele participou com o presidente Jair Bolsonaro por meio de uma teleconferência, minimizando o impacto da recessão global que está se formando com o coronavírus.
“A reunião foi constrangedora. Me assustou na hora em que Paulo Guedes falou que a recuperação da economia pós-coronavírus poderá ser em V quando não temos nem certeza de quando a crise vai acabar e muito menos quando o país vai começar a se recuperar”, lamentou um empresário que participou do encontro e contou ao Blog a sua impressão da teleconferência.”É muito leviano, para um economista, falar em recuperação em V na atual conjuntura”, emendou. O evento foi tão surreal que teve até um participante peladão.
Aliás, nem mesmo técnicos sérios da pasta comandada por Guedes admitem essa possibilidade dada a incerteza sobre o fim da crise. Alguns não descartam a possibilidade de o PIB deste ano desabar de 8% a 10%, apesar de a nova previsão do Ministério da Economia ser de retração de 4,7%.
Na videoconferência organizada pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), conselheiros ficaram constrangidos com a falta de conexão com a realidade do presidente, que insistiu em colocar a culpa nos governadores da crise, e até do mediador do encontro, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que não perdeu a oportunidade para elogiar Bolsonaro por defender o afrouxamento das medidas de isolamento social. “Esse momento também foi constrangedor, porque muitos ficaram calados”, lamentou o empresário.
Conforme os últimos dados oficiais, mais de 13 mil pessoas morreram no país vítimas da covid-19 e, pelas estimativas do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), centro de pesquisa dentro da faculdade de Medicina da Universidade de Washington, ligado à Casa Branca, projeta que o país poderá registrar 90 mil mortes.