Os riscos da falsa euforia

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Gente graúda do governo amanheceu hoje convencida de que o presidente interino, Michel Temer, conseguiu criar um ambiente mais positivo no país. Essa visão de baseia no noticiário sobre o Produto Interno Bruto (PIB), indicando que todos compraram a versão de que o pior já ficou para trás, para os tempos de Dilma Rousseff, afastada do cargo por um processo de impeachment que está em andamento no Senado.

O fato de a queda do PIB, de 0,3% no primeiro trimestre ante os três meses anteriores, ter ficado abaixo da previsão do mercado, de 0,8%, não significa dizer que o Brasil está próximo de iniciar um novo ciclo de crescimento econômico. Isso é ilusão. Estamos muito longe disso. A história mostra que os governos que se deixaram guiar pela falsa euforia se deram muito mal. Temer corre sério risco de afundar se não mantiver os pés em terra firme.

Tudo ainda está muito ruim. O governo está quebrado e, mesmo assim, apoia projetos de aumento de servidores que custarão pelo menos R$ 58 bilhões aos cofres públicos em quatro anos. Ora, não adianta dizer que essa despesa está prevista no Orçamento da União. É desculpa esfarrapada. O certo seria nem cogitar tal reajuste. O país já gasta demais com o funcionalismo e uma máquina ineficiente. O Brasil afundou justamente porque não houve, com Dilma, responsabilidade fiscal. Parece que tudo continua como antes, apenas com um discurso mais empolado.

As empresas também enfrentam grandes dificuldades. Muitas estão superendividadas. As que não fecharam as portas, driblam as restrições demitindo e cortando custos. Não há perspectiva de recuperação da produção tão cedo, porque as famílias, os consumidores, estão com o orçamento destruído. Antes de voltarem a comprar além do essencial, terão que pagar dívidas. Sem consumo, não há produção e não há investimentos. Portanto, é melhor ir com calma. Se Temer se deixar contaminar por aqueles que acreditam que um mundo novo se abriu pode levar o Brasil a uma nova crise.

Temer deveria concentrar as energias para aprovar medidas que realmente sejam vitais para arrumar as contas públicas. Ele mesmo já admite mexer na proposta de limite para o aumento de gastos públicos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, diz que o maior erro do governo passado foi prometer o que não podia entregar. Afirma que não incorrerá no mesmo erro. Pois já está no horizonte propostas de mudança nos projetos encaminhados ao Congresso e nada de concreto para estimular a atividade ainda saiu do governo.

Enquanto isso, o Senado vai dando mostras de que Dilma Rousseff pode, sim, voltar ao poder. Temer deveria ficar atento a essa ameaça. Ela é maior do que ele imagina.

Brasília, 07h30min

Vicente Nunes