O SUPERAVIT DE LEVY

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O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está monitorando número por número do resultado fiscal de janeiro, que será anunciado nesta semana. Os dados são aguardados com ansiedade pelos investidores, pois serão a primeira prova da promessa do chefe da equipe econômica de entregar superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Apesar da grande expectativa, não há ilusão no mercado. Ninguém acredita que, com o país em recessão, a meta seja atingida.

Pelas contas do economista-chefe do Santander, Maurício Molan, o governo central, que inclui Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central, a economia para o pagamento de juros da dívida atingiu R$ 14 bilhões. Já os governos regionais (estados e municípios) pouparam R$ 5,5 bilhões. A se confirmarem esses números, o superavit consolidado do setor público encostará nos R$ 20 bilhões, valor considerável se levado em conta a coleção de deficits dos meses anteriores.

Mas é preciso uma ressalva. Nenhum grande esforço foi feito para se chegar a tais resultados. O governo federal se beneficiou do período favorável para a arrecadação de impostos, que sempre aumenta no começo do ano, e da contenção dos gastos ao aplicar a regra de 1/18 do total de despesas propostas na Lei Orçamentária enviada ao Congresso. Não é só. Diante do estrago que se viu nos últimos anos, as contas públicas continuarão com rombo acumulado em 12 meses equivalente a 0,6% do PIB.

A visão dentro do governo é de que, mesmo que haja decepção entre os investidores em relação aos números apresentados pelo Tesouro, o importante será a sinalização. “Vamos deixar claro que a promessa de cumprir a meta de 1,2% é para valer. Não estamos brincando ou recorrendo a estratégias de marketing. Esse governo mudou. Acabou o tempo de maquiagens, truques ou o que quer que seja para mostrar as contas públicas superavitarias”, diz um influente técnico da equipe econômica. “O governo da ficção ficou para trás. Conosco, é realidade na veia. Sem isso, não teremos como reconstruir a confiança. E sem confiança, o quadro que hoje é grave ficará pior”, assinala.

Para auxiliares de Levy, resultados positivos nas contas do governo serão vitais para contrapor as notícias negativas que virão pela frente. “Sabemos que o desemprego aumentará, que a inflação ficará acima de 7% bom um bom tempo, que o PIB será negativo por pelo menos dois trimestres e que o Banco Central continuará elevando os juros”, afirma um técnico próximo a Levy. Mas, para ele, tudo isso já está no preço, inclusive um possível racionamento de água e energia elétrica. “Não faltam projeções mostrando que o estrago feito na economia nos últimos anos foi grande. Então, o melhor que podemos fazer é mostrar que um novo governo começou em 2015, e que a mudança mais significativa está no ajuste fiscal”, ressalta.

Os técnicos da equipe econômica esperam que, diante das repercussões positivas nos mercados, o governo consiga quebrar as resistências de parlamentares da base aliada, sobretudo do PT, em relação as medidas propostas por Levy para a arrumação das contas públicas. “Já esperávamos a gritaria em torno do pacote fiscal, principalmente contra as ações para corrigir as distorções no seguro-desemprego e nas pensões por morte. Temos a certeza de que prevalecerá o bom senso”, diz um funcionário do Ministério do Trabalho. Para ele, pode ser que um ajuste ou outro seja encampado pelo governo. Mas nada que sinalize aos investidores recuo na promessa de superavit. “A corda está no nosso pescoço e vamos nos livrar dela mais cedo do que imaginam”, assegura.

Crescimento medíocre

» O Banco Santander refez as projeções de crescimento do Brasil para os próximos quatro anos. Os números mostram que, ao longo dos dois mandatos de Dilma Rousseff, o país terá crescimento médio anual de 1,5%, o segundo pior do período republicano. Para 2015, a instituição espanhola prevê queda de 0,9% do PIB. A reação da economia, se vier, só em 2018, com incremento de 3,5%, o que é considerado um feito quase impossível.

Barrados pela burocracia

» Completam-se hoje 19 dias que o Banco Central enviou ao Palácio do Planalto as indicações de dois novos diretores: Tony Volpon (Assuntos Internacionais) e Otávio Ribeiro Damaso (Regulação). Até agora, os nomes não seguiram para o Senado. Segundo a Casa Civil, a demora é normal, e decorre dos feriados de carnaval.

Disputa entre petistas

» O senador Delcídio Amaral (PT-MS) acha que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que ele integra, terá uma pauta complexa pela frente, com as medidas de ajuste fiscal, a proposta de unificação de alíquotas do ICMS, “que responde por 70% da reforma tributária”, e o imbróglio do setor elétrico. A bancada petista vai decidir hoje quem presidirá a comissão: ele ou Gleisi Hoffmann (PR).

Decepção de Hereda

» A despeito de todos os sorrisos demostrados ontem ao transmitir a presidência da Caixa Econômica Federal para Miriam Belchior, Jorge Hereda não escondeu de amigos o quanto estava decepcionado com a decisão da presidente Dilma Rousseff de substituí-lo.

Último a saber

» Hereda contou que, em nenhum momento, foi consultado sobre a troca no comando da Caixa. Soube da sua saída pela imprensa. E sentiu-se traído, pois acreditava que estava fazendo um bom trabalho à frente da instituição federal.

Míriam, o que é IPO?

» No mercado financeiro, é grande o ceticismo em relação à capacidade de Miriam Belchior de tocar o projeto de abertura de capital da Caixa Econômica Federal. Entre os analistas mais ferinos, especula-se se a ex-ministra do Planejamento sabe o que é IPO, oferta inicial de ações, na sigla em inglês.

Brasília, 00h01min

Vicente Nunes