Na sua primeira aparição pública como diretor de Política Econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira não economizou na turbulência provocada no mercado financeiro. Ao ressuscitar o termo “especialmente vigilante” para definir a preocupação do BC com a inflação, ele deixou os investidores atônitos. Conseguiu, em questão de minutos, mudar toda a direção das taxas de juros dos contratos futuros e inverter a tendência do dólar, que começava a cair — a moeda saltou de R$ 2,82 para R$ 2,84.
Até Awazu abrir a boca, havia quase um consenso no mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) daria mais uma alta de 0,25 ponto percentual nos juros, na sua reunião de março, e encerraria o ciclo de aperto com a taxa básica (Selic) em 12,50% ao ano, patamar elevadíssimo para uma economia mergulhada na recessão. Mas, ao resgatar o termo abandonado pelo BC, o diretor mudou o rumo das apostas. Os investidores entenderam que é desejo da autoridade monetária dar um aumento de 0,5 ponto na Selic no mês que vem e, talvez, mais 0,25 em abril, com os juros chegando a 13%.
A declaração de Awazu só confirma o quanto o BC está perdido na condução da política monetária, provocando ruídos desnecessários no mercado com sua comunicação errante. Em dezembro do ano passado, quando elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, o Copom afirmou, no comunicado pós-reunião, que “o esforço adicional de política monetária” tenderia “a ser implementado com parcimônia”. Ou seja, que os investidores não esperassem altas mais fortes da Selic. Diante disso, consolidou-se, entre os agentes econômicos, que, no encontro seguinte, em janeiro, o comitê reduziria a alta da taxa básica para 0,25 ponto.
No fim de dezembro, porém, o então diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, falou grosso ao divulgar o relatório trimestral de inflação. Esqueceu “a parcimônia” e enfatizou que o BC “faria o necessário” para conter as pressões inflacionárias. Novamente, os investidores mudaram o rumo das apostas, num vaivém que só ampliou a desconfiança que varre o país. Em janeiro, o Copom subiu a Selic em 0,5 ponto, para os atuais 12,25%.
Na ata em que explicou os motivos para ter pesado a mão nos juros, a autoridade monetária baixou o tom e, em nenhum momento, usou as expressões “especialmente vigilante” e “fazer o que for necessário”. Resumo: o mercado comprou o discurso de que o BC estava disposto a dar somente um aumento de 0,25 ponto e nada mais. Awazu indicou, porém, que o time liderado por Alexandre Tombini está perdido, não consegue se entender sobre o combate efetivo à carestia, que, em 12 meses, atingiu 7,14%.
Para analistas que acompanham, segundo a segundo, os movimentos do mercado futuro, se o novo diretor de Política Econômica do BC queria ajudar o Tesouro Nacional ao derrubar as taxas de longo prazo, que servem de parâmetro para o custo da dívida pública, errou feio. Os juros dispararam. Perante a falta de credibilidade da autoridade monetária, os investidores passaram a embutir, nas taxas, prêmios maiores de riscos para cobrir eventuais mudanças de rota. Os mais afoitos correram para o dólar como forma de proteção.
Não é só: ao indicar que pode levar a Selic para 13% ao ano, como entendeu grande parte do mercado, o BC passou a jogar contra o ajuste fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Quanto mais a taxa básica sobe, maior é o gasto com juros da dívida e maior é a necessidade do governo de economizar recursos para pagar seus credores e evitar a deterioração das contas públicas.
A sensação que se tem, diante dos constantes cavalos de pau dados na política monetária, é de que há um Guido Mantega dentro do Banco Central. Quando estava no comando da Fazenda, Mantega acelerava os gastos, destruía o ajuste fiscal e pressionava a inflação, obrigando o BC a reforçar a alta dos juros. Agora, com o ajuste fiscal firme prometido por Levy, não há necessidade de o BC ser tão rigoroso com a Selic, uma vez que o nível de atividade está no chão.
Para não confundir mais e resgatar a previsibilidade da política monetária, seria de bom tom o BC mostrar o que realmente quer. Com todo o estrago provocado pela presidente Dilma Rousseff na economia, não é recomendável que uma instituição tão séria ponha mais lenha na fogueira da desconfiança.
Swaps opõem Levy e Tombini
» Técnicos do governo admitem haver um descompasso entre Alexandre Tombini e Joaquim Levy. Pelo ministro da Fazenda, o Banco Central já teria suspendido as intervenções diárias no câmbio e deixaria o dólar se valorizar para resgatar a competitividade da indústria nacional. Mas o presidente da autoridade monetária bate o pé e insiste na manutenção da venda de contratos de swaps para evitar excesso de volatilidade nos preços da moeda norte-americana.
Desde o Copom, alta de 10%
» Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária, em 28 de janeiro, o dólar já subiu 10%. Entre os economistas, a visão é de que, por mais que a atividade esteja fraca, haverá algum repasse para os preços, ajudando a manter a inflação bem longe do teto da meta neste ano.
Carestia pode subir 8%
» Os analistas mais pessimistas estão projetando inflação entre 7,5% e 8% para este ano. Em relação ao desemprego, apostam em taxas variando entre 6,5% e 7%. Esses números já foram coletados pelas pesquisas realizadas pelo Banco Central no mercado. E tiram o sono do Palácio do Planalto.
Lua de mel chega ao fim
» Está ficando muito claro entre os investidores que a lua de mel deles com o governo chegou ao fim. Com a ameaça de racionamento de água e de energia, o nível de atividade despencando e o Planalto tomando sovas seguidas no Congresso, ninguém mais acredita que Joaquim Levy conseguirá entregar a meta fiscal de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Depois que Levy anunciou as medidas para recuperar a saúde das contas públicas, o dólar despencou de R$ 2,70 para R$ 2,55.
Brasília, 08h16min