Se ainda havia alguma dúvida sobre o tamanho da influência do empresário Marcelo Odebrecht no Palácio do Planalto, não há mais o que questionar. Com os e-mails apreendidos pela Polícia Federal na empresa comandada pelo empreiteiro, que foi preso por meio da Operação Lava-Jato, é possível ver que a sede do governo federal funcionava como uma espécie de puxadinho da maior construtora do país e líder do cartel que surrupiou o caixa da Petrobras. Não à toa, o nervosismo foi às alturas em Brasília.
Odebrecht não tinha limites. Ele definia até o que Lula e Dilma Rousseff tinham que dizer em encontros com chefes de Estados de países onde a empreiteira tocava obras ou estava interessada em fechar negócios. Sem constrangimento, usava seu poder de influência para que Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete de Lula, e Giles Azevedo, uma das pessoas mais próximas de Dilma, não deixassem brechas para falhas nos lobbies a serem feitos a favor da empresa.
Nada escapava dos detalhes de Odebrecht, sobretudo as nomeações para cargos em áreas de interesse da construtora. O empresário não só trabalhou pesado pela saída de Nelson Hubner da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia, que havia contrariado interesses da empresa na disputa pelas usinas hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia, como disparou a artilharia para barrar a nomeação de José Antônio Muniz Lopes para a mesma função, pois ele era visto como um “homem da Camargo Corrêa”, outra empreiteira fisgada pela Lava-Jato.
Os e-mails de Odebrecht mostram ainda ministros servindo de elo entre o empresário e o governo para que nada saísse do controle da empreiteira, cujos negócios no exterior foram bancados com recursos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a juros subsidiados. Essa rede de corrupção, admitem integrantes do governo, pode ser a gota dágua para que os pedidos de impeachment de Dilma avancem no Congresso. Nunca as investigações da Lava-Jato estiveram tão próximas do Planalto e da presidente.
Pessimismo
Para analistas, com a revelação do esquema de Marcelo Odebrecht, Dilma fica mais fraca e as novas denúncias não poderiam ter chegado em pior momento. O governo precisa aglutinar forças no Congresso para manter vários vetos presidenciais — entre eles, o que impediu o aumento de salários de servidores do Judiciário — e aprovar o ajuste fiscal que garantirá o cumprimento da meta de superavit de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.
“É por isso que a tensão só aumenta”, diz Renato Nobile, presidente da gestora de recursos Bullmak. “A desconfiança em relação ao Brasil é enorme. E o problema é o governo. Para os investidores, somente uma mudança no comando do país seria capaz de reverter o pessimismo que está empurrando a economia país para o buraco”, acrescenta. O executivo lembra que, mesmo com o mundo em uma situação bem melhor do que a registrada logo depois do estouro da crise imobiliária dos Estados Unidos, em 2008, o risco Brasil caminha para níveis impressionantes.
Os contratos de Credit Default Swaps (CDS), seguros contra calote, atingiram ontem 535 pontos, aproximando-se do pico observado em outubro de 2008, de 586 pontos. “Estamos falando de um índice maior do que o de países como a Rússia (385 pontos), que sofre com os embargos econômicos impostos pelos EUA e pela Europa”, afirma Nobile. “Ninguém acredita mais no cumprimento das metas fiscais prometidas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e que o governo seja capaz de fazer as reformas que o Brasil tanto precisa”, emenda.
Desalento
Na avaliação de Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), o descontentamento em relação ao governo não se restringe aos investidores. Com o desemprego em disparada, a população tende a expressar todo o seu descontentamento. Pelos cálculos dele, é possível que a taxa de desemprego, que atingiu 8,6% em julho, segundo a Pnad Contínua, feche o ano acima de 10%. “O índice de desocupação, contudo, poderia ser muito maior se não observássemos a volta do desalento. As pessoas estão desistindo de procurar trabalho porque sabem que não encontrarão”, assinala.
Com o nível de atividade afundando, destaca Ramos, o desemprego vai apontar para cima por todo o ano de 2016 e deverá ficar próximo de 10% em 2017. “Na melhor das hipóteses, veremos as taxas de desocupação começando a recuar em 2018, mesmo assim, lentamente”, afirma. A razão é simples. Sem confiança no país, não haverá investimentos produtivos. O consumo também continuará fraco. “Ou seja, sem produção e sem demanda, não tem emprego”, diz.
Essa, no entender do professor, será a pior das faturas entregues por Dilma à população. Os erros que ela cometeu nos últimos anos foram minando a economia, até levá-la ao esgotamento. O emprego foi o último a ser atingido. Agora, será o último a se recuperar.
Brasília, 00h10min