O SOPRO DA MORTE

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A presidente Dilma Rousseff acreditava que ganharia fôlego com a nomeação do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, mas praticamente assinou a sua sentença de morte. Ao afrontar o país, dando foro privilegiado para o petista três dias depois de uma multidão ter saído às ruas pedindo o seu impeachment, a chefe do Executivo rasgou todos os compromissos com a opinião pública. Pior: descobriu-se que a presidente tentou obstruir a Justiça para proteger seu criador, como revelou gravação feita no âmbito da Operação Lava-Jato.

Toda sorridente, como se estivesse em uma festa e não no centro da maior crise política e econômica que o país já viveu, Dilma convocou uma entrevista para negar que a nomeação de Lula tivesse como objetivo tirá-lo das mãos do juiz Sérgio Moro e deixá-lo sob responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF). Foram necessárias, contudo, poucas horas para se constatar que tudo era uma farsa. Dilma havia encaminhado o termo de posse de Lula antes de a nomeação ser oficializada. Caso ele fosse pego pela polícia federal, apresentaria o documento alegando que estava sob a alçada do Supremo.

Ao longo do dia de ontem, muita gente no entorno da presidente garantia que Dilma tinha dado uma cartada de mestre ao entregar o governo a Lula. E sustentavam esse pensamento citando como exemplo o comportamento do mercado financeiro. Depois de um estresse inicial, o dólar caiu e a bolsa de valores subiu. “Os investidores nos deram um voto de confiança”, frisou um dos mais importantes assessores da petista. “Entenderam que, com Lula no governo, não haverá loucuras, muito pelo contrário, será feito um esforço enorme para recobrar a confiança”, emendou.

Logo depois da divulgação das gravações da conversa entre Dilma e Lula, no qual os dois fechavam o acerto para proteger o líder petista de uma possível ação policial, a euforia no Planalto se transformou em nervosismo. A ficha caiu. Ficou claro o quanto o governo está frágil. A certeza passou a ser não mais a de recuperação do governo, mas a de que a administração de Dilma está muito próxima do fim. Não há salvação.

A verdade de Delcídio

A ação da presidente da República para proteger Lula só reforça a delação de Delcídio do Amaral. Ele revelou que Dilma tentou, por meio do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, convencê-lo a não contar o que sabia. Mercadante alegou que partiu dele a decisão de procurar Delcídio e oferecer dinheiro para que ele protegesse a presidente e o agora ministro da Casa Civil. O senador reafirmou o que disse.

Quem conhece o histórico de Dilma sabe que ela não é muito afeita à verdade. E a compulsão à mentira atingiu o ápice durante a campanha à reeleição de 2014. A petista dizia que a inflação estava sob controle, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) só apontava para cima, a ponto de fechar o ano passado em 10,67%, o nível mais elevado em quase uma década e meia. A presidente garantia que as contas públicas estavam em ordem, mas o país registrará, em 2016, o terceiro ano consecutivo de deficit.

Dilma ressaltava, ainda, por meio de um roteiro traçado por seu marqueteiro, João Santana, que está preso, que o Brasil estava crescendo e criando empregos. O Produto Interno Bruto (PIB), no entanto, caiu 3,8% em 2015 e recuará mais de 4% neste ano. Foi destruído 1,5 milhão de vagas com carteira assinada no ano passado e outros 2 milhões devem ser fechados em 2016. Na verdade, ressaltam os especialistas, enquanto a petista iludia os eleitores, estava empurrando o país para a mais profunda recessão da história.

O trauma foi tamanho, que a população não esconde mais a insatisfação em relação ao governo. Já não se deixa mais enganar com promessas ou por discursos inflamados. Tanto que voltou a sair as ruas ontem em manifestações espontâneas. É um sinal explícito de que o governo perdeu os argumentos.

Apego à corrupção

Como ministro da Casa Civil, Lula pode até convencer parte da base aliada a dificultar o andamento do processo de impeachment de Dilma no Congresso. Mas a pressão popular tenderá a ser muito maior do que as negociatas que venham a ser feitas para manter o projeto de poder do PT. Maior partido do país, o PMDB indicou que pode dar uma sobrevida ao governo. A mão amiga resultou na nomeação do deputado mineiro Mauro Lopes para Secretaria de Aviação Civil.

O PMDB, como se sabe, está tão podre quanto o PT. E não vai resistir às novas revelações da Lava-Jato. Infelizmente, o país verá, daqui por diante, a desintegração de um governo que teve como mote a esperança e a promessa de melhores condições de vida para a população, mas preferiu se esbaldar com a corrupção.

Brasília, 00h05min

Vicente Nunes