O propinoduto dos laboratórios que pode desaguar no Planalto

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A CPI da Covid está fechando o cerco em torno de laboratórios que podem ter recebido vantagens do governo, seja em relação à cloroquina, seja em relação a vacinas contra o novo coronavírus. Senadores já falam em um propinoduto que pode desaguar no Palácio do Planalto.

Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito acreditam que gente graúda do governo federal foi beneficiada por vantagens concedidas por laboratórios. A suspeita de propina está ficando cada vez mais forte com base em documentos sigilosos que já estão de posse da CPI.

Um telegrama secreto do Ministério das Relações Exteriores mostra, por exemplo, que o presidente Jair Bolsonaro atuou diretamente em favor dos laboratórios fabricantes de hidroxicloroquina.

Segundo o documento, Bolsonaro pediu ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em abril de 2020, que acelerasse o envio de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina no país. O fármaco não tem comprovação de eficácia contra a covid-19.

Para senadores, o telefonema de Bolsonaro ao governante indiano é uma prova relevante do envolvimento pessoal do presidente com o fornecimento para o Brasil do remédio sem eficácia.

Sigilos quebrados assustam o governo

Nesta quarta-feira (16/06), a CPI da Covid decidiu pela quebra de sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático do presidente do laboratório farmacêutico Apsen, Renato Spallicci, e da diretora da empresa, Renata Farias Spallicci.

“Foram importadas algumas toneladas nos meses de abril e maio de 2020. Em seu site, a empresa se posiciona sobre o uso da hidroxicloroquina, fala de publicações que mostram melhora de pacientes que fizeram uso do medicamento e chega até a recomendar uma dosagem”, diz o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Também teve os sigilos quebrados o sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano. A empresa atuou como intermediadora na negociação entre o Brasil e a Bharat Biotech para aquisição da vacina Covaxin.

Documentos de posse da CPI mostram que a Precisa recebeu, antecipadamente, R$ 500 milhões do contrato de R$ 1,6 bilhão fechado pelo governo brasileiro com o laboratório indiano, o correspondente a um terço do valor total previsto no contrato fechado em 25 de fevereiro.

A lista de quebra de sigilos inclui, ainda, José Alves filho, sócio-administrador da Vitamedic Indústria Farmacêutica, Jose Alves Filho. A empresa e a Apsen, segundo o senador Randolphe, foram as campeãs de venda do chamado ‘kit covid’, como ivermectina, cloroquina e hidroxicloroquina. Nenhum desses medicamentos têm eficácia comprovada contra o novo coronavírus.

A venda do vermífugo ivermectina saltou de R$ 44,4 milhões, em 2019, para R$ 409 milhões no ano passado — uma alta de 829%. Já o faturamento com cloroquina e hidroxicloroquina pulou de R$ 55 milhões para R$ 91,6 milhões em igual período, segundo levantamento do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), com base nos dados da consultoria IQVIA.

Brasília, 12h01min

Vicente Nunes