O pós-impeachment

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POR ANTONIO TEMÓTEO E RODOLFO COSTA

A complacência do mercado financeiro e dos empresários com o presidente interino, Michel Temer, tem data marcada para acabar. Assim que o Senado Federal votar o impeachment definitivo de Dilma Rousseff, as cobranças vão se agigantar para que o governo tire do papel projetos vitais para a recuperação da economia. Muitos reconhecem que o discurso dos últimos dois meses deu ânimo novo. Mas, diante de um tombo de quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) desde o fim de 2014, não há mais tempo a perder. É preciso que propostas sejam enviadas e aprovadas pelo Congresso Nacional ainda no segundo semestre de 2016. O maior temor dos analistas é de que a equipe econômica não consiga sensibilizar deputados e senadores a tomarem medidas amargas, como limitar o aumento de gastos, reformar a Previdência Social e elevar impostos.

Os investidores não se contentarão com pouco, reconhece Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper e um dos economistas mais ouvidos pelo governo. Ele ressalta que o mais provável é que Temer consiga apoio para aprovar, até dezembro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior. Mas será preciso ser mais ousado, como levar adiante o processo de mudanças na Previdência, inclusive com a desvinculação das aposentadorias do salário mínimo. Para ele, o Brasil já adiou demais esse debate. E o resultado pode ser medido pelo rombo assustador das contas públicas. Entre 2014 e 2018, o buraco, sem levar em consideração os gastos com juros da dívida pública, passará de R$ 500 bilhões. Trata-se de um quadro inaceitável, reconhece.

“As reformas necessárias são profundas e a solução não virá rapidamente. É preciso saber se enfrentaremos essas questões ou não. Fizemos as escolhas erradas nos anos de 1970. O resultado de não enfrentar os problemas fiscais daquela época implicou na recessão dos anos 1980”, diz. Agora, se o país insistir em seguir pelo caminho mais fácil, as consequências serão ainda mais dramáticas. “A dívida pública, que caminha para 70% do PIB (Produto Interno Bruto), voltará a ficar insustentável e teremos inflação crônica”, alerta.

Eleições

Apesar da urgência que se colocou no caminho de Temer, não se acredita que o esforço para botar um freio na gastança federal vá muito além da PEC — não neste ano. A perspectiva é de que temas mais polêmicos, como as reformas da Previdência e trabalhista só comecem a ser apreciadas pelo Congresso a partir de fevereiro de 2017, após a escolha da mesa diretora da Câmara e do Senado. Assim, o tempo político do peemedebista encurtou demais. Além da aprovação do impeachment, que concentra todas as energias do Palácio do Planalto, há o recesso branco de deputados e senadores, que sequer aprovaram o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) do próximo ano. Depois do afastamento definitivo de Dilma, o radar do Congresso estará voltado para as eleições municipais de outubro.

Nesse quadro traçado pelos especialistas, deve ser adicionado o processo de cassação de Eduardo Cunha. Que ninguém espere dias tranquilos. À medida que o fim do mandato for se aproximando, a disposição do deputado em fazer delações e entregar os companheiros será maior. O governo, inclusive, já escalou uma tropa de choque para convencer o antigo aliado a se conter. Para isso, o Planalto também conta com o apoio do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, ao mesmo tempo em que tentará baixar a temperatura entre os parlamentares, promete colocar temas econômicos do interesse do governo em votação para mostrar aos donos do dinheiro que a agenda do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem prioridade.

Mais otimista, a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, projeta que a PEC que limita os gastos aprovada ainda em 2016 e os debates para a reforma da previdência serão iniciados nas comissões da Câmara. Ela explica que existe uma trégua do mercado com o governo enquanto o afastamento de Dilma Rousseff não for votado. Entretanto, após o fim desse processo, as cobranças dos investidores e dos empresários para que medidas sejam tomadas aumentará.

Brasília, 13h10min

Vicente Nunes