A contagem regressiva começou. Dentro e fora do governo já se admite que a presidente Dilma Rousseff será afastada do poder nos próximos meses. Ainda que nada de concreto sobre a corrupção da Petrobras tenha atingindo a petista, a pressão para que ela sofra o impeachment tornou-se incontrolável. Com o grito ecoado das ruas no último domingo, será difícil reverter a disposição do Congresso em interromper o mandato presidencial.
A perspectiva entre integrantes da equipe econômica é de que, agora, o movimento pelo fim do governo será liderado pelos empresários, que estão vendo parte importante dos negócios ruir. Como muitos têm fortes ligações com políticos, vão cobrar uma decisão rápida, que possa resgatar a confiança no país. Entre os donos do dinheiro, ninguém acredita na capacidade de Dilma de liderar um processo que retire o país da gravíssima recessão.
Os relatos sobre empresas que vêm chegando ao Ministério da Fazenda e ao Banco Central são alarmantes. Se a paralisia da atividade perdurar por mais três ou quatro meses, uma leva de grandes empresas irá à bancarrota. A lista é enorme e diversificada. A quebradeira só não se tornou realidade ainda porque há uma ação coordenada entre os bancos para renegociar e alongar as dívidas até a tempestade passar. O problema é que o quadro de incertezas só se agrava.
Em conversa recente com técnicos da equipe econômica, executivos de um dos maiores bancos do país disseram que, há meses, não realizam novas operações de empréstimo a grande empresas. Os negócios atuais se restringem a rolar débitos por total incapacidade de pagamento. Essas rolagens estão, porém, se esgotando, pois a geração de caixa das companhias é cada vez menor. Não há produção, e as vendas despencam. O grito de socorro já está na ponta da língua.
Complacência
Os empresários reconhecem que a pecha de corrupta ainda não colou em Dilma, mas acreditam que ela pagará o preço de o partido dela, o PT, ter comandado o maior esquema de desvio de dinheiro público da história. Não há como dissociá-los. O maior pecado de Dilma, pelo menos até agora, foi ter destruído os pilares da estabilidade econômica. Ela simplesmente trouxe de volta a inflação, a recessão e o desemprego, destruindo a sensação de bem-estar que, por anos, sustentou a complacência da população com os desmandos no país.
Nada indica, porém, que a saída de Dilma vá resgatar o Brasil do atoleiro. As opções que se colocam são terríveis. O vice-presidente Michel Temer está citado em várias depoimentos colhidos pela Justiça dentro da Lava-Jato. Tanto o presidente do Senado, Renan Calheiros, quanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que aparecem na linha de sucessão, podem ser denunciados e presos. A população já demonstrou que não comprou o discurso vazio do PSDB de Aécio Neves, que foi obrigado a se retirar das manifestações em São Paulo debaixo de vaias.
Diferentemente de 1992, quando Fernando Collor de Mello foi defenestrado do poder por corrupção, hoje não há uma base política forte para dar suporte a quem vier a assumir o lugar de Dilma, caso ela deixe o governo. Nenhum dos postulantes tem a imagem de honestidade de Itamar Franco, que avalizou o Plano Real. Não por acaso, as ruas demonstram tanta aversão aos políticos, independentemente da ideologia. Para o eleitorado, o sistema político se tornou sinônimo de corrupção, uma visão perigosíssima, que abre espaço para aventuras e o fortalecimento da extrema direita.
Abraço dos afogados
Sem solução simples à vista, o destino do Brasil será derreter, caminhando para o mais dramático dos cenários: a depressão econômica. O Banco Central mostrou que, em janeiro, quando se esperava os primeiros sinais positivos da economia, o país encolheu 8,12% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse tombo, medido pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), desconsidera os fatores atípicos do período. Por isso, já se fala em retração entre 6% e 7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 se a crise política se estender.
Há, no governo, quem acredite que Dilma pode recuperar o fôlego se o ex-presidente Lula assumir um ministério com a missão de mudar a política econômica. Ele acredita que, se o governo voltar a gastar, a distribuir dinheiro para os mais pobres e para o empresariado, conseguirá reverter o ânimos e enterrar o processo de impeachment. Lula, caso aceite o convite de Dilma, trará de volta o populismo que prevaleceu nos quatro primeiros anos de mandato da atual chefe do Executivo e que quebrou o país.
Ao partir para a gastança, Lula poderá agradar às bases sindicais, que pedem mais deficit público, e reunir os poucos mais de 170 votos no Congresso para garantir a sobrevida de Dilma. Mas, em vez de recuperar o país, o empurrará de vez do precipício. O petista é investigado pela Lava-Jato, tem um mandado de prisão sendo analisado, não inspira mais confiança entre os agentes econômicos e é rejeitado por parte significativa dos eleitores. No atual contexto, O risco é de Dilma e Lula afundarem abraçados e levarem o Brasil para o estado de anarquia no qual ninguém consegue governar.
Brasília, 08h30min