O maior equívoco de Bolsonaro

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AUGUSTO FERNANDES

A indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à embaixada brasileira dos Estados Unidos, em Washington, se confirmada, será o “maior equívoco” do presidente Jair Bolsonaro desde que ele assumiu a Presidência. Assim avalia a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e suplente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), Simone Tebet (MDB-MS). Para ela, em meio ao processo de votação da reforma da Previdência na Câmara, o chefe do Planalto não deveria tomar altitudes que comprometessem o futuro político e econômico do país.

“Em vez de pensar no macro, no atacado, o presidente fica preocupado com o varejo. Ele coloca cada vez mais questões polêmicas para o Congresso Nacional analisar e a gente acaba ficando sem votar, discutir ou debater as grandes questões. Como a retomada do desenvolvimento econômico e de geração de empregos no país, a reforma tributária que vem aí, a reforma da Previdência, que ainda não terminou, e o pacote anticrime. São muitas questões”, analisou.

De acordo com a senadora, essa atitude pode abalar o governo de Bolsonaro. “Acho que o presidente se fragiliza, pois corre o risco de ter uma eleição apertada ou de ser derrotado dentro da comissão. Isso sequer faz sentido e seria péssimo, pois o governo ainda não tem uma maioria confortável. Não vi o Bolsonaro colocando algum interlocutor no Senado para sentir o clima entre os parlamentares antes de indicar o nome. Ninguém foi ouvido”, comentou.

Dúvidas

Tebet disse que os senadores ainda não tiveram tempo para discutir entre si uma possível indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para chefiar a Embaixada do Brasil em Washington (EUA), visto que o assunto veio à tona em meio ao início do recesso dos parlamentares. Para o congressista ocupar o cargo de embaixador, o filho do presidente precisa ser aprovado por maioria absoluta na CRE e no Plenário do Senado. De qualquer forma, a senadora garante que “há incerteza e dúvida entre alguns colegas”.

“Independentemente de ser legal ou constitucional (a indicação de Eduardo), eu não acho que seja moral. Contradiz tudo aquilo com que o presidente se comprometeu em campanha, com um discurso de meritocracia. Não podemos esquecer que é uma carreira diplomática que exige, normalmente, 30 anos de trabalhos no exterior para se chegar ao posto mais alto, que é ser embaixador nos EUA. Não é o fato de ele acabar de presidir a comissão (de Relações Exteriores, na Câmara), ou ter morado lá que necessariamente o qualifique. Não vejo como atitude mais certa nesse momento”, disse a senadora.

Vicente Nunes