O FATOR PMDB

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Mais do que as manifestações marcadas para domingo, que podem elevar as pressões para o impeachment ou a renúncia da presidente Dilma Rousseff, é a convenção nacional do PMDB, no sábado, que está mexendo com as emoções do mercado financeiro. Os investidores tentam mapear quais são as chances reais de o partido pular do barco do governo. Se hoje, com a legenda ainda se dizendo da base aliada e ocupando espaço de destaque na Esplanada dos Ministérios, a petista não consegue fazer nada andar no Congresso, sem o apoio formal dos peemedebistas o fracasso será total.

 

Até onde a vista alcança, tudo indica que não será desta vez que o PMDB romperá formalmente com Dilma. Mas, entre os investidores, é forte a convicção de que o partido deixará a presidente à míngua até entregá-la aos leões. Essa perspectiva tem prevalecido sobre todos os problemas da economia. Não há, no entendimento dos agentes financeiros, o que esperar do governo em termos de medidas para tirar o país da recessão e resgatar a confiança. O jeito é se apegar à política para que ela promova a virada que todos estão ansiando.

 

O exemplo mais forte de como o mercado lavou as mãos em relação ao atual governo foi a reação à proposta de deputados petistas para que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, amplie o deficit fiscal para estimular os investimentos e, por tabela, a retomada do crescimento. Em outros tempos, tal iniciativa seria suficiente para provocar um nervosismo enorme entre os investidores, sobretudo pelo fato de o ministro sempre flertar com rombos nas contas públicas. Contudo, nada do que venha do PT em relação ao ajuste fiscal causa mais espanto. Mesmo que o governo demonstre apoio.

 

Crises extremas

 

Pelos cálculos de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, do jeito que as contas públicas estão hoje, sem a aprovação de qualquer aumento de imposto, nem a CPMF, o Brasil registrará deficit primário até 2018, o último ano de governo de Dilma garantido pelas urnas. Em 2016, especificamente, o buraco será de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso significa dizer que, em mais da metade dos dois mandatos — supondo que complete os oito anos —, a petista manterá as contas públicas no vermelho.

 

No entender de Perfeito, num quadro de crises econômica e política tão extremas, como as que estamos vivendo, seria compreensível que o governo apresentasse rombos em suas contas. “O problema é que as pessoas não acreditam que os deficits serão revertidos em um período pré determinado”, diz. A visão é de que os buracos se repetirão constantemente, como uma licença para gastar. E quando alguém se der ao trabalho de propor a cobertura dos rombos, será sempre por meio de aumento de impostos, coisa que a sociedade não suporta mais, especialmente por se deparar com um governo perdulário e incompetente.

 

O economista da Gradual acredita, porém, que haverá algum ajuste nos resultados do governo, quando incluídos os gastos com encargos da dívida. O chamado deficit nominal encerrou 2015 acima de 10% do PIB. Dos mais de R$ 500 bilhões que o Banco Central gastou com juros, R$ 100 bilhões foram decorrentes das perdas com swaps cambiais, contratos que funcionam como uma venda futura de dólares. Esses prejuízos não devem se repetir. Além disso, ele aposta em queda da taxa básica de juros (Selic), que está em 14,25% ao ano, e em ligeiro recuo da inflação, que reduz as despesas com títulos públicos.

 

Apreensão

 

Se o mercado vê como positiva a debandada do PMDB da base aliada, dentro do governo, tal perspectiva gera apreensão, principalmente na equipe econômica. Todos sabem que a força do partido é fundamental para que pelo menos algumas das medidas relativas ao ajuste fiscal passem no Congresso. “Na conjuntura atual, já não podemos contar com a maioria do PT, que deveria estar unida em torno da presidente Dilma. Perder o apoio do PMDB será mortal”, admite um importante assessor do Palácio do Planalto.

 

O desespero da equipe econômica só reforça o quanto o governo está frágil e sem capacidade de sair do imobilismo. Não à toa, as projeções para a economia só pioram. Até o fim do ano, as estimativas eram de que o desemprego medido pela Pnad Contínua encerrasse 2016 entre 11% e 12%. Agora, já se fala em 13% e 14%. Ou seja, o exército de desocupados pode passar de 9,1 milhões para 14 milhões de pessoas. Haja força de Dilma para lidar com todas as insatisfações.

 

Brasília, 08h30min