ROSANA HESSEL
O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a privatização das estatais para que elas não corram o risco de se tonarem irrelevantes. Além disso, reforçou a necessidade de aplicar os recursos da venda de ativos em um fundo para a erradicação da pobreza. Ao falar sobre a necessidade de redução do tamanho do estado, de forma contraditória, curiosamente também defendeu a criação de um novo ministério para cuidar do patrimônio da União, como uma das plataformas de campanha para o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
“O Estado brasileiro não pode ser rico”, disse Guedes, nesta quarta-feira (01/11), durante abertura de evento da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados sobre a 5ª avaliação das estatais federais, esquecendo que, se a União não tivesse recursos, não haveria socorro aos mais pobres e nem às empresas no combate aos efeitos econômicos da crise provocada pela pandemia da covid-19. Durante o evento, ele voltou a afirmar que é preciso combater a pobreza privatizando e vendendo ativos, em uma agenda de “transformação do capital público”. Além disso, reforçou que a União “é a maior imobiliária do mundo” e, nesse sentido, defendeu a necessidade de que o próximo governo crie um Ministério do Patrimônio da União, para vender os imóveis que valem R$ 1 trilhão e “estão juntando mato”.
Apesar de a criação de mais um ministério ir na contramão do discurso de enxugar o tamanho do Estado, para o ministro, evitou falar dos custos que é criar um novo ministério e partiu para a defesa da venda dos ativos como forma de garantir o cumprimento do teto de gastos. “O teto de gastos foi feito para impedir o crescimento do Estado”, afirmou. Ele citou que esse novo ministério deveria administrar mais de R$ 3 trilhões ou R$ 4 trilhões de ativos da União, incluindo R$ 800 bilhões, que é o valor de mercado das estatais federais, e, outros R$ 1 trilhão a R$ 2 trilhões de recebíveis. “Durante a campanha, vamos trabalhar esses temas e erradicar a pobreza”, afirmou.
Apesar de não conseguir cumprir a promessa feita no início do governo de iria privatizar todas as estatais e arrecadar R$ 1 trilhão, Guedes voltou a reforçar a necessidade da venda da Eletrobras, Correios e Petrobras para elas não perderem relevância. Ele reforçou que é importante desinvestir para manter o país crescendo. Por enquanto, apenas Eletrobras e Correios têm previsão de serem vendidas no ano que vem, mas os projetos estão sendo adiados constantemente.
Risco de irrelevância
No caso da Eletrobras, o ministro disse que, se o Brasil crescer de 3% a 4% ao ano, a companhia precisará investir R$ 15,7 bilhões todo ano só para manter o fornecimento de energia.. “Ela só consegue R$ 3,5 bilhões. Ela está condenada à irrelevância. Se o Brasil crescer, ela (a Eletrobras) desaparece. Se o Brasil crescer pouco ou parar em recessão ela continua importante”, afirmou. “O problema não é só que ela não consegue fornecer a energia. O problema é que ela impede que os outros forneçam”, afirmou.
De acordo com Guedes, os monopólios das estatais impedem o aumento de investimento no país. “Se tem estatal dominando o mercado. Ninguém entra”, afirmou. Durante o evento em que foram premiadas as melhores das 60 estatais foram avaliadas, sendo 45 de controle direto e 15 subsidiárias, ele lembrou que, os Correios, que tinham o monopólio de cartas — que não são mais utilizadas pela maioria da população porque o e-mail tomou o lugar –, está precisando se reinventar como empresa de logística e, nesse sentido, já competem com as empresas de comércio eletrônico, que passaram a atuar também nesse mercado e terem frotas próprias. “É preciso vender rápido (os Correios), porque daqui uns dois ou três anos, também corre o risco de ficar irrelevante”, afirmou.
O ministro também apontou que a Petrobras corre o risco da irrelevância dentro de 15 anos, quando houver a transição para a energia limpa. “O mundo inteiro está indo em direção ao verde. O futuro é verde e digital. E a Petrobras está sob risco (de se tornar irrelevante)”, disse. Ele disse que a estatal não consegue tirar o petróleo do fundo do mar “na velocidade necessária”. E os Emirados Árabes, “fizeram melhor”, pois, “tiraram o petróleo do chão e construíram uma Las Vegas no meio do deserto”, comparando a cidade norte-americana com Dubai.
Paulo Guedes destacou que as estatais federais deram lucro neste ano, mas as mais rentáveis continuam subsidiando as deficitárias. Além disso, criticou novamente o fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ter em sua carteira ações da Vale, da Eletrobras e da JBS. “Para quê? O banco não é hedge fund (fundo de proteção)! Ele é um asset management (gestor de ativos)? Vamos transformar esse capital público. Eu prefiro vender essas ações e pegar esse dinheiro e transformar em uma estrada, em uma ferrovia” acrescentou.
Conforme dados da pasta, nos primeiros nove meses do ano, as estatais federais registraram R$ 135 bilhões em lucro. Em 2015, as companhias tiveram perdas de R$ 35 bilhões.