O ENIGMA VOLPON

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Depois da desastrosa declaração durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro, rasgando todos os comunicados do Banco Central, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, optou por não criar ruídos. Silenciosamente, ele vem procurando construir consensos dentro do banco. A meta é que o Copom passe um sinal forte de que, mesmo com o aprofundamento da recessão e a disparada do desemprego, não há, pelo menos por ora, intenção de se reduzir a taxa básica de juros (Selic), que continuará em 14,25% ao ano.

 

Tombini acredita que será possível chegar a uma decisão unânime no Copom. O ponto dissonante continua sendo o diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, que, nos dois últimos encontros do Comitê, votou pelo aumento de 0,5 ponto percentual na Selic. Os dois passaram a última semana juntos na China, onde participaram da reunião do G20, o grupo das economias mais desenvolvidas do mundo. Tiveram tempo de sobra para aparar as arestas.

 

A pergunta que todos estão se fazendo é se Volpon manterá a coerência dos últimos votos. Ao defender o aperto monetário, independentemente da forte retração da economia, ele alegou que a inflação está muito alta, em um terreno perigoso. E desde o debate dentro do Copom de janeiro, a situação só piorou. Não só o custo de vida atual aumentou, como as projeções dos especialistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano e dos próximos pioraram. Teoricamente, Volpon teria que manter posição no encontro do Comitê que começa hoje e acaba amanhã.

 

Ceticismo

 

As divergências de visões são claras — ou pelo menos, eram. O presidente do BC acredita que o pior da inflação se dará no primeiro trimestre do ano, e que a queda de até dois pontos percentuais do IPCA nos próximos meses será suficiente para inverter a curva e derrubar as estimativas de mercado, que continuam muito distantes do centro da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. Volpon está cético. Crê que uma visão mais favorável dos agentes econômicos em relação à inflação ainda demorará a aparecer.

 

O consenso que Tombini busca tem um objetivo claro: indicar que, ao se confirmar as previsões de queda da inflação, o BC passará a discutir a possibilidade de reduzir os juros. É o que ele mais deseja, mas não quer avançar o sinal. Precisa do apoio integral de seus diretores. A credibilidade da instituição está no chão, e isso se deve, principalmente, aos erros de comunicação, sobretudo do presidente do banco, que é visto com ressalvas pelos investidores. Muitos o avaliam como alinhado aos anseios do Ministério da Fazenda, sob o comando de Nelson Barbosa, e aos do Palácio do Planalto.

 

Volpon, por sua vez, acredita que o BC já poderia ter pavimentando o caminho para a queda dos juros se, no fim do ano passado, quando as expectativas de mercado começaram a se deteriorar, o Copom tivesse elevado a Selic, mesmo que num patamar mínimo. Ele, assim como o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural, Sidnei Marques, acabou sendo voto vencido.

 

Tensão por comunicado

 

Além do consenso costurado por Tombini, o mercado está ansioso pelo comunicado que será divulgado após a reunião do Copom. Parte relevante dos analistas dá como certa a inclusão, no documento, do discurso difundindo nas últimas semanas por Altamir Lopes (diretor de Política Econômica) e Aldo Mendes (Polícia Monetária), de que a economia ainda afundará mais e que isso ajudará a conter as remarcações de preços.

 

Na opinião de João Pedro Ribeiro, analista da Nomura Securities, em Nova York, por mais que o BC queira cortar os juros, não há, neste momento, espaço para fazê-lo. Ele ressalta que uma corrente do mercado acredita que, caso a decisão do Copom de manter a Selic seja unânime, em abril a Selic já começará a cair. “Acho cedo. Para os juros baixarem, o Banco Central terá de comprovar que suas previsões estavam corretas e, realmente, a inflação, que está em quase 11%, ficou mais próxima de 8%”, frisa.

 

Ribeiro ainda duvida dessa estimativa. “A inflação se mantém resistente. Os números de janeiro e fevereiro foram muito ruins”, assinala. De qualquer forma, destaca ele, dada à disposição de Tombini e companhia de cortarem os juros, ao menor sinal de melhora do custo de vida, a Selic cairá, independentemente dos riscos envolvidos na decisão. “Um corte a partir do segundo semestre deste ano não será surpresa”, conclui.

 

Brasília, 08h30min