O objetivo era construir uma relação que não mexesse nas articulações feitas por Maia e Lorenzoni. Como a pauta prioritária do país, a reforma da Previdência, está na Câmara, é ele quem tem sido o grande interlocutor no Parlamento. Ele dá as cartas e chama as lideranças para dialogar. A movimentação do DEM foi costurada para instruir que assuntos relacionados ao Executivo sejam conversados com o ministro da Casa Civil, de modo que Maia e Alcolumbre cuidem da agenda legislativa.
A articulação feita por Lorenzoni vinha sendo desidratada, a ponto de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter crescido politicamente e ser tratado como um articulador informal. O movimento do DEM em apaziguar as relações entre Maia e Onyx buscou, assim, fortalecer o ministro.
Atuaram na força-tarefa para melhorar o relacionamento entre os dois o presidente nacional do partido, ACM Neto, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Participaram, ainda, outras lideranças, ainda que de maneira periférica, mas que ajudaram a melhorar o relacionamento, como o deputado Efraim Filho (DEM-PB), um dos vice-presidentes da legenda.
Enfraquecimento
O esforço não é para menos. O DEM entende que o enfraquecimento de Lorenzoni não é bom para o partido. Afinal, quanto mais ele se mantiver fortalecido, melhor para o partido. Um ministro da Casa Civil forte atrai políticos interessados a se lançar a postos estratégicos nas eleições municipais de 2020. Um ministro enfraquecido, não.
A pessoas próximas, ACM disse, na quarta-feira (3/4), que a relação entre Maia e Onyx estão melhores. Não é um relacionamento que os aproximarão em âmbito pessoal. O discurso é de que não é para esperar que eles se reúnam para tomar alguma cerveja e confraternizar. Mas, a nível profissional, que é o que interessa ao partido, o clima mudou.
O fortalecimento dos principais líderes do partido é favorável sob a ótica da política nacional. Lorenzoni puxa cabos eleitorais e candidatos fortes no Rio Grande do Sul. Maia no Rio de Janeiro. E Alcolumbre no Amapá. E não somente em suas bases eleitorais. O cacife político dos três, com suporte de ACM, pode favorecer costuras para o fortalecimento do partido em outros estados em 2020 e, consequentemente, nas eleições de 2022.
A meta do DEM é continuar a expansão. E o passo mais próximo para isso é ter foco nas eleições municipais de 2020. Em 25 de abril, a legenda celebra as convenções estaduais e, em 30 de maio, ocorre a convenção nacional. As discussões sobre o crescimento do partido e as diretrizes políticas para o futuro naturalmente serão debatidas nos eventos.
O aumento do DEM não é uma ameaça ao governo e ao PSL. Os dois podem sair ganhando. Entre todos os partidos do Centrão com quem Bolsonaro se encontrou, o alinhamento foi mais forte com o partido. O Democratas pode, inclusive, avançar na esteira do PSL. Embora tenha sido um dos partidos que mais se expandiu, por meio da “onda Bolsonaro”, ainda não é uma legenda com a mesma capilaridade do DEM.
A ideia é a de que, onde o PSL não conseguir emplacar ou não tiver um nome forte suficiente nas próximas eleições, o DEM esteja presente. Para isso, precisa manter seus principais articuladores fortalecidos. A interlocução feita por Lorenzoni com o Centrão não para por hoje. Ele tomou a dianteira e arquitetou um planejamento de reuniões contínuas com os presidentes e líderes dos partidos. E, já na próxima semana, articulou reuniões para Bolsonaro receber presidentes de outros partidos.
Brasília, 15h31min