Temer não se encontrou apenas com os oito listados acima, mas também dedicou 30 minutinhos aos deputados Ronaldo Fonseca, daqui do Distrito Federal — o primeiro a ser recebido, às 8h —; Lelo Coimbra; José Priante; Anibal Gomes; Alfredo Kaefer; Átila Lins; Darcísio Perondi e Sinval Malheiros. Também foram até o Planalto os senadores Wilder Morais, Ataídes Oliveira, Telmário Mota, Roberto Rocha, Pedro Chaves e José Maranhão. Não foi só. O presidente esteve com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, e com o chefe do PR, Valdemar Costa Neto — este último cidadão, fora da agenda. A lista infindável — pode ter chegado a 30 — mostra como governistas estão tensos quando o assunto é a análise da denúncia de corrupção passiva contra Temer.
Jogo possível
O Planalto deseja o apoio de pelo menos 40 dos 66 integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Mas, hoje, pode não chegar nem mesmo à metade dos votos. Por isso, os convites desenfreados aos políticos. Há três hipóteses a serem consideradas a partir das agendas pública e secreta do presidente. A primeira delas é mais otimista. O governo, atento às dificuldades impostas pela crise política, joga o jogo possível na tentativa de se manter no poder. Não há nada de ilegítimo em receber parlamentares no palácio, afinal, fazer política é uma das funções presidenciais. Imbuídos do mais puro sentimento de permanecerem dirigindo o país, os peemedebistas tentam conquistar apoios suficientes para continuar no comando do país.
A segunda hipótese é a de que o Planalto tem perdido tempo tratando da crise, a ponto de gastar um dia inteiro para receber parlamentares. A atenção dada ao baixo clero apenas reforça a paralisia do governo para tratar de outros temas que não seja a denúncia de Rodrigo Janot com base na delação de Joesley Batista, dono da JBS. Só para ilustrar, estamos, até o momento, sem ministros da Cultura e da Transparência, o que revela a dificuldade do Planalto em focar em temas prosaicos, como escolher titulares para pastas. Sim, é possível dizer que o mesmo ocorreu com Dilma Rousseff e que, no caso dela, houve uma incompetência dupla no período antes da queda: perdeu tempo encalacrada com a crise de então e não conseguiu sobreviver. A incapacidade da petista, que jogou o mesmo jogo, é um fato — por mais que nunca venha a admitir tal coisa.
Toma-lá-dá-cá
A terceira e última hipótese foi apresentada pelo Correio na reportagem “Cargos e emendas para satisfazer a base”, de Paulo de Tarso Lyra e Renato Souza. Publicada na segunda-feira, 3, a reportagem revelava como o governo abriria os cofres e distribuiria cargos. Logo na largada, duas dificuldades. Em fevereiro, o Planalto havia chancelado o contingenciamento de R$ 40 bilhões no Orçamento, aí incluídas as emendas parlamentares, e loteado, entre a base aliada, os principais cargos de segundo e terceiro escalões na tentativa de aprovar as reformas trabalhista e previdenciária. Assim, a ginástica do Planalto para convencer os deputados e senadores a salvarem o governo não foi das mais fáceis ontem, numa agenda que começou às 8h e só terminou às 22h.
E aqui chegamos a um impasse principal. Se nas negociações das reformas para o bem da saúde do país, já é questionável o toma-lá-dá-cá com os parlamentares, imagine quando o expediente é usado na sobrevivência política. E vale repetir a análise de Gil Castelo Branco, presidente da ONG Contas Abertas: “O grande problema é que esses recursos não são do governo, são nossos, o que pode jogar por terra o ajuste fiscal”.
Brasília, 13h01min