O calvário de cada dia

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POR PAULO SILVA PINTO

Temos mais uma prestação hoje na longa coleção de más notícias econômicas que os brasileiros vêm reunindo. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2016, a ser divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deverá vir com queda de 0,8% na expectativa média do mercado. Será um pouco melhor do que a queda de 1,4% no fim de 2015.

Mas há sempre um detalhe que se encaixa na frase “nunca foi tão ruim assim”. Em relação ao primeiro trimestre de 2016, o resultado será uma variação negativa em torno de 6%, afinal já é longo o período de recessão. Teremos o oitavo trimestre de queda. Detalhe: ainda estamos longe do fim do ciclo de tombos.

É uma recessão que foi inteiramente produzida aqui, pela má gestão da política econômica, que levou à explosão dos gastos públicos. Teria sido possível evitar isso, mesmo preservando muito dos gastos sociais. Bastaria evitar a bolsa empresário: centenas de bilhões de reais que serviram para empréstimos subsidiados a empresas, além dos recursos que deixaram de entrar no Tesouro por conta de desonerações tributárias dirigidas em vez de baixar impostos para todo mundo.

Houve, certamente, piora dos nossos termos de troca, a relação entre o que exportamos e o que compramos, devido à redução do crescimento chinês. Países como o Chile e o Peru também sentiram o baque. Mas não caíram em um círculo vicioso como o nosso, cuja culpa é toda nossa. A imensa responsabilidade do Executivo nesse processo é óbvia. Mas os parlamentares não podem fingir que o assunto não é com eles.

Ajuste fiscal nunca foi uma prioridade do Congresso, a não ser na retórica. Alguns se dedicam com esmero ao desperdício de dinheiro em suas emendas ao Orçamento, para não falar do ralo da estrutura de que dispõe cada deputado e senador. Não há paralelo assim em países com renda semelhante à nossa. Aliás, nem mesmo em países onde sobra dinheiro.

Rombo da adminstração pública

Não é à toa que o consumo da administração pública é um dos poucos itens que, de acordo com as previsões, teve alta no trimestre ao relação ao período anterior, de 1,3% na previsão da equipe do Santander. O investimento vai levar novo tombo, de 4,6% no trimestre, de acordo com os economistas do banco, em função, sobretudo, da grande capacidade ociosa na indústria, que desestimula qualquer plano de expansão da quantidade ou da qualidade do que é produzido. Para a variação do PIB como um todo, a equipe do Santander espera 0,8%, alianhados com o mercado.

A Schwartsman e Associados prevê resultado um pouco pior no trimestre: queda de 1,2%, bem próximo ao que se viu nos três últimos meses de 2015. Não se trata de uma grande diferença conceitual entre diferentes analistas, mas basicamente da calibragem dos modelos econômicos usados, com peso maior ou menor para algum componente.

O resultado dessa calamidade que o país atravessa é o desemprego, que já atinge 11,2% da população economicamente ativa. É um aumento de 3,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado. Assim como o PIB, o desemprego não parou de piorar. Vai chegar a 13% no fim do ano, e só então poderá começar a melhorar, o que não vai acontecer rapidamente, na avaliação do ex-diretor do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman. “O emprego é o componente que mais tempo demora para reagir, tanto para entrar na crise quanto para sair dela”, explica. A reação virá somente em 2018. No próximo ano, com um crescimento pífio de 0,5%, não será possível contar com novas contratações de forma significativa.

O economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, também conta com o desemprego em 13% até setembro, quando talvez o mercado de trabalho atinja o fundo do poço, mas sem chances de começar a se recuperar novamente. Para Camargo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), só será possível melhorar a competitividade das empresas e os salários com uma reforma trabalhista que elimine a multa sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), assim como o acesso ao saldo depositado.

“Isso deveria ser sacado somente quando a pessoa se aposentasse, até mesmo como incentivo à poupança previdenciária. No sistema que temos hoje, o trabalhador recebe um prêmio ao sair da empresa depois de alguns anos, colocando a mão nesses recursos. Em contrapartida, os empresários não investem na formação de recursos humanos”, comenta Camargo.

Brasília, 00h01min

Vicente Nunes