“O barulho vai ser ensurdecedor”, diz Guedes sobre recessão global

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ROSANA HESSEL

Em um claro discurso eleitoreiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes voltou a fazer previsões otimistas do Brasil e catastróficas para o resto do mundo, apesar de o país apresentar taxas de crescimento abaixo da média global e até menos do que a vizinha Argentina, que apresentou avanço de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2022 enquanto o PIB brasileiro subiu 1% no mesmo período.

“Não tenham receio, não desanimem, não se assustem com os problemas lá de fora, porque os problemas vão existir e vão se aprofundar. Vamos ver uma inflação alta nos Estados Unidos, na Europa, vamos ver recessão, vai ter guerra comercial, pode ter uma escalada dessa guerra geopolítica. O barulho vai ser ensurdecedor”, afirmou Guedes, nesta terça-feira (28/6), durante a abertura do Painel Telebrasil 2022, evento realizado pela Conexis, entidade das empresas de telecomunicações.

De acordo com o ministro, o forte crescimento da China — maior parceiro comercial do Brasil — dos últimos anos não foi resultado de um bom planejamento, mas do avanço dos mercados globais. “Os mercados globais vão dar uma desacelerada forte. Não dá mais para surfar em onda baixa. Acabou a onda”, disse ele, acrescentando que, para crescer, a segunda maior potência global terá que se voltar para o mercado interno, como faz o Brasil. “A economia brasileira é uma das mais fechadas do mundo”, afirmou. Ele comparou o Brasil a um “um corpo enorme e com uma cauda balançando” e, nesse sentido, o setor externo é a cauda.

Na avaliação do chefe da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro (PL), haverá uma recessão global e os países “só estão começando a enfrentar o problema”. Enquanto isso, segundo ele, ao contrário das demais economias, o Brasil já conseguiu “atravessar a onda” e a inflação deve começar a cair, porque já passou o pico. Guedes citou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar sobre a perspectiva de queda do custo de vida, que afirmou, ontem, que “o pior da inflação já passou”.

Crescimento de 2%

Para Guedes, os economistas “erraram muito no ano passado e vão continuar errando” e só ele faz previsões certas e voltou a afirmar que o país “vai surpreender novamente”.  “Eu disse que íamos voltar em V e voltamos e já erraram a recessão neste ano e estão prevendo (crescimento) de até 1,7%. Mas eu acho que, possivelmente, o PIB (deste ano) vai ser de 2% de crescimento”, afirmou.

De acordo com o ministro, com o aumento dos lucros bilionários das estatais e as concessões que estão sendo realizadas neste ano, os cofres da União já tem um excesso de R$ 50 bilhões de receitas que não estavam no Orçamento, e por conta disso, a perspectiva dele é de zerar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que, neste ano, sofreu duas reduções.

“Baixamos 35%e vamos reduzir para zero”, prometeu.  “Vamos continuar reduzindo o IPI, porque acaba por favorecer o setor produtivo. E estamos repassando o excesso de arrecadação para a população, dentro da liberal democracia”, afirmou, alfinetando os governos que defendem a social democracia, porque, “quando vê um dinheirinho, incha a máquina”.  Ele ainda sinalizou que o Congresso deverá aprovar a ampliação do Auxílio Brasil dos atuais R$ 400 para R$ 600 por meio da proposta de emenda constitucional “que deverá ser examinada até amanhã”.

Segundo o ministro, a redução dos impostos, como o IPI e o Imposto de Importação (II) dos produtos listados na Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul — que foi reduzido em 10%, no ano passado, e em mais 10% neste ano — será a forma de o atual governo fazer uma “reforma tributária” e aumentar o poder de compra da população. Para ele, essa espécie de “abertura” por meio da queda de impostos pode ajudar, inclusive, a acelerar o processo de acesso do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado clube dos ricos.

Vicente Nunes