Novo risco de rebaixamento

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ROSANA HESSEL

As agências de classificação de risco estão atentas à trajetória da dívida pública e, não à toa, já avisaram que devem rebaixar o país novamente devido ao adiamento da votação da reforma da Previdência para 19 de fevereiro de 2018. As chances de a proposta passar muito mais magra do que está no Congresso são grandes, na avaliação do economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Isso aumenta a chance de novo rebaixamento. Ramos lembra que, para a dívida pública parar de crescer, o governo precisará fazer um ajuste de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). “O deficit primário está em 2,5% do PIB e, para reverter o quadro, o governo precisa zerar o rombo e fazer superavit na mesma proporção. Isso não será fácil”, avisa.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimiza esses riscos e demonstra confiança de que a reforma da Previdência será aprovada em 2018 para evitar o buraco fiscal quando o novo governo assumir. “Exatamente para assegurar que não teremos essa situação de problema grave, temos regras. Tem a Lei da Responsabilidade Fiscal, a regra de ouro e o teto dos gastos. É uma série de regras exatamente para presumir problemas graves. Isso é positivo”, diz.

No Congresso, entretanto, parlamentares aliados do governo afirmam que será difícil votar a Previdência em fevereiro de 2018, pela proximidade com o período eleitoral. Apesar disso, o Palácio do Planalto quer que a proposta não saia de pauta, mesmo no recesso. O discurso governista é de que, ao voltarem para as bases, os deputados verão que o texto não enfrenta mais tanta resistência da sociedade.

Grande parte dos especialitas descarta a possibilidade de aprovação. Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, afirma que, se a janela de oportunidade de votação não se fechou, está por uma pequena fresta. “A sensação é de que, depois do Carnaval, o governo terá que negociar tudo novamente. Há uma questão óbvia de resistência das corporações dos servidores às mudanças”, aponta.

“A verdade é que, em 2019, se não tivermos a reforma da Previdência, a realidade vai piorar. É possível que a arrecadação tenda a ter uma dinâmica melhor e ganhe forças ao longo dos anos, com a retomada da economia. Mesmo assim, não compensará o aumento das despesas obrigatórias, em especial, as previdenciárias”, afirma. Para Zeina, o esforço fiscal demandará articuladores políticos e equipe econômica fortes. “A questão das contas públicas não pode ficar de fora do debate nas eleições”, conclui.

Brasília, 11h43min

Vicente Nunes