ROSANA HESSEL
A formalização do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, anunciado na última sexta-feira (28/06) na cúpula do G20 (grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia), no Japão, surpreendeu até mesmo integrantes do Ministério da Economia, pois muitos viam que essa negociação teria, provavelmente, o mesmo fim da fatídica Rodada Doha, de abertura comercial global iniciada em 2001, que foi abandonada após a crise financeira mundial e a retomada do protecionismo em muitos países. Nos bastidores, a análise sobre o resultado bem sucedido é que a nova estrutura do governo foi crucial para que o acordo saísse do papel.
A avaliação inicial sinaliza que a extinção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), que acabava cedendo às pressões de setores da indústria e ampliava o protecionismo, travando as conversas, foi fundamental para o resultado. Com isso, a criação do Ministério da Economia, o discurso liberal e de abertura, defendido pelo ministro Paulo Guedes e o secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, prevaleceu dentro da nova pasta.
A atuação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também é bastante elogiada internamente para que o acordo saísse logo. Além disso, outro fator que contribuiu para o resultado foi o fato de o Ministério das Relações Exteriores não estar focado em economia. O fato de as preocupações do ministro Ernesto Araújo ser mais ideológico ajudou a não atrapalhar as conversas com os europeus, segundo fontes do governo.
O acordo UE-Mercosul não é tão amplo como o que estava na mesa no início das negociações, que deram a largada há 20 anos, mas tem agradado tanto governo quanto empresários com a expectativa de ganhos econômicos em torno de US$ 100 bilhões em 10 anos. Os parlamentos dos dois blocos ainda precisam dar o aval do acordo. Vale lembrar que a Argentina acabou barrando do lado do Mercosul nas últimas tentativas, mas, devido à crise financeira, estava topando qualquer coisa para sair do atoleiro em que se encontra. O presidente argentino, Mauricio Macri, também foi bastante atuante durante a atual presidência pro-tempore do bloco sul-americano para fechar o acordo.