No Planalto, exoneração de Paulo Fona é tratada como pedido de demissão

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RODOLFO COSTA

O presidente Jair Bolsonaro não demitiu o agora ex-titular da Secretaria de Imprensa da Presidência (SIP) da República, Paulo Fona. Fontes palacianas afirmam que ele se demitiu ao escrever uma carta e compartilhar com a imprensa, informando que foi exonerado pelo chefe do Executivo federal. Ao Blog, pessoas próximas do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, afirmam que a real história é outra, diferente da comunicada pelo jornalista.

A indicação de Fona foi feita no fim de julho, pelo titular da Secretaria Especial de Comunicação Social, Fabio Wajngarten. Bolsonaro tem dado carta branca para que seus ministros e seus respectivos comandados montem suas próprias equipes. Na hierarquia da Secretaria de Governo, Fona era subordinado a Wajngarten, que, por sua vez, é subordinado a Ramos.

Com a autonomia concedida por Bolsonaro, Wajngarten bateu o martelo para a sucessão da SIP em meados de 25 de julho, quando a imprensa começou a divulgar a escolha. À época, a informação divulgada era de que ele assumiria o posto em 1º de agosto. A nomeação, no entanto, veio a ocorrer somente na última sexta-feira (16/8). Nesse meio tempo, no entanto, Fona começou a ser fritado no governo, pelo passado profissional recente, quando foi secretário de Comunicação na gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB), ex-governador do Distrito Federal.

Os apoiadores mais fiéis e os mais ideológicos do governo começaram a mapear o histórico de Fona, e a afinidade política do jornalista. Iniciou-se, então, um processo de fritura, associando-o à oposição. Naturalmente, as informações chegaram ao conhecimento de Bolsonaro, que, segundo admite ao Blog um assessor da Secretaria de Governo, pediu, sim, a demissão de Fona, na segunda-feira (12), em viagem a Pelotas (RS).

Confiança

O presidente tem um modus operandi pragmático de gestão. Se Bolsonaro não sente confiança em algum comandado, ainda que dentro da hierarquia em alguma das pastas, ele sugere a retirada do comandado. Mas Ramos teria sugerido paciência. Diplomático, o ministro afirmou ao presidente que, na terça-feira (13), conversaria com Fona. Dito e feito. “O ministro ligou para ele, à noite, e marcou um café da manhã para amanhã [hoje, quarta-feira (14)]. Como Fona não foi indicação dele, a intenção do encontro era simplesmente poderem conversar, cara a cara, e se conhecerem melhor antes de tomar a decisão de confirmar a demitir, ou não”, afirmou um interlocutor.

Depois da conversa, veio a surpresa. “O Fona disse que a ‘decisão de sua exoneração’ pelo presidente o ‘pegou de surpresa’. Quem foi pego de surpresa foi o ministro”, criticou o interlocutor. “Ele se demitiu quando mandou essa carta para a imprensa. Estava tudo certo para os dois tomarem o café, no gabinete do ministro, e ele fez aquilo, jogando a responsabilidade no presidente”, acrescentou.

Confira abaixo, na íntegra, a carta enviada aos jornalistas por Paulo Fona:

A decisão da minha exoneração pelo Presidente da República me pegou de surpresa. Fui convidado para assumir a Secretaria de Imprensa, alertei-os de meu histórico e minha postura profissional e a intenção de ajudar na melhoria do relacionamento com a mídia em geral. O desafio era imenso, sempre soube, mas esperava maior profissionalismo, o que não encontrei. Em todos os governos que passei de diferentes partidos – MDB, PSDB e PSB – sempre trabalhei com o objetivo de tornar a Comunicação mais ágil, eficiente e transparente e leal às propostas da gestão.

Foi assim que aprendi a trabalhar ao longo de quase quatro décadas, nos principais veículos de comunicação do país e nas secretarias de Comunicação do Distrito Federal, por duas vezes, e do Rio Grande do Sul. Com meu pai aprendi a respeitar as pessoas e os cargos públicos que me foram confiados. Construí minha carreira profissional com meus próprios méritos e defeitos. Obrigado a todos os jornalistas que me acolheram de maneira calorosa e esperançosa de que o relacionamento mudaria.

Paulo Fona

Vicente Nunes