CBPFOT191220170642zeina 19/12/2017. Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Seminário Correio Debate Desafios para 2018. Zeina Latif (XP Investimentos)

“Não consigo enxergar correção de rumos”, diz Zeina Latif

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Apesar do movimento do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, fazendo jogo de cena para acalmar os agentes financeiros, que amanheceram nervosos nesta sexta-feira (22/10), a fim de convencer que o ministro continua com as rédeas da política econômica, o estrago foi grande e será praticamente impossível consertar, de acordo com a economista e consultora Zeina Latif, ex-economista-chefe da XP, em entrevista ao Blog.

“Não consigo enxergar correção de rumos”, lamentou a especialista que sempre defendeu resultados concretos da equipe econômica, algo que Guedes não conseguiu cumprir as promessas feitas desde que assumiu o cargo, como arrecadar R$ 1 trilhão com privatizações e melhorar a eficiência do gasto público. “Não se trata mais de fazer discurso e trocar o time. É preciso entregar, e este governo não tem muito que entregar. O que vai acontecer é um leve respiro”, afirmou. “A credibilidade está muito arranhada”, disse.

 

Essa mobilização do de Bolsonaro e de Guedes buscou acalmar o mercado, porque o dólar disparou e a Bolsa de Valores abriu em queda pelo segundo dia seguido em meio à confusão na pasta que culminou com a nova debandada na equipe econômica, segundo a economista.  O mau humor do mercado voltou, ontem, um dia depois de o ministro da Economia anunciar que pediria uma “licença” para gastar mais e estourar o teto de gastos a fim de arrumar espaço fiscal para o novo Bolsa Família de R$ 400, sem cortar um centavo de emenda parlamentar ou de subsídios. Esse discurso de Guedes foi visto como uma guinda do ministro para o populismo de Bolsonaro, que nunca foi foi um político liberal, historicamente. Não à toa, mercado financeiro mostrou o descontentamento e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desabou fazendo os investidores perderem R$ 284 bilhões no valor das ações da B3 um único dia, conforme levantamento da Economática.

 

De acordo com Zeina Latif, o governo precisa mostrar algo concreto de que vai realmente melhorar a disciplina fiscal. “Não adianta o governo falar que vai respeitar o teto de gastos, como fez o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios (que institui calote de dívidas judiciais) apresentada ontem pelo relator (o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), é pior do que o texto enviado pelo governo”, lamentou. “Não dá mais fizer uma palavra aqui e ali. Se, por ventura, o mercado der uma sossegada, é momentânea, até vir a próxima notícia ruim”, emendou.

 

Pelos cálculos de especialistas em contas públicas, o texto da PEC dos Precatórios aprovado, ontem, na comissão especial da Câmara dos Deputados amplia em mais de R$ 90 bilhões as despesas extra-teto. Além da pedalada em cerca de R$ 50 bilhões dos R$ 89,1 bilhões previstos no Orçamento para o pagamento de dívidas judiciais, o relator mudou a base de cálculo para o reajuste do limite do teto. Em vez de utilizar o IPCA acumulado em 12 meses até junho do ano anterior, a proposta altera o indexador para os 12 meses encerrados em dezembro, o que poderá significar cerca de R$ 45 bilhões a mais para o governo gastar, se a inflação oficial não encerrar o ano em dois dígitos.

 

Na avaliação da consultora, o governo precisa mostrar que, pelo menos, tenta cortar onde é possível para abrir espaço fiscal para criar o benefício social prometido há mais de um ano, sem sucesso. “Ninguém quer mexer em nada. Tá todo mundo (da ala política do governo) preocupado com a reeleição, assim como o Lira, que quer eleger o grupo dele. Para eles, a inflação (que é consequência da piora fiscal), não é problema deles. Não estamos vendo esforço do governo desde a aprovação da PEC Emergencial, que o mercado tentou ficar otimista com ela, mas ela é muito ruim. Não tem nenhum ajuste. Agora, as expectativas se ajustam e será preciso que o governo entregue muito mais”, acrescentou.

 

Diante do mau humor dos mercados, Bolsonaro foi ao Ministério da Economia para conversar com Paulo Guedes e sinalizar que o ministro continua forte. Durante o pronunciamento de ambos à imprensa, a B3 chegou a zerar as perdas, chegando a 107 mil pontos. Contudo, no fim da fala do ministro, que disse que prefere tirar nota 8 em fiscal do que 10, o Índice Bovespa voltou a operar com queda. Por volta das 16h30, recuava mais de 1%, a 106,6 mil pontos.