Em meio a tantas notícias ruins e com o Congresso não economizando nas bombas disparadas no colo da presidente Dilma Rousseff, o governo viu um fio de esperança no resultado da indústria em maio. A produção computou avanço de 0,6% ante abril, contrariando as projeções de todos os analistas privados, que apostavam em queda média de 0,5%. Na avaliação de integrantes da equipe econômica, mesmo que o número esteja longe de mostrar uma virada na recessão que atormenta o país, já se começa a ver uma luz no fim do túnel.
“Temos de nos apegar a alguma coisa, pois o pessimismo passou dos limites”, diz um técnico com trânsito no Palácio do Planalto. “Não podemos negar que a situação da economia hoje é assustadora, que os números gerais que ainda veremos nos próximos meses indicarão que o país está no atoleiro. Mas ver a indústria dar um suspiro em maio foi um fato positivo. Mostra que, quando todas as condições estiverem reunidas, a reação da economia será vigorosa”, ressalta. “Mas teremos que ter muita paciência, até que a confiança seja reconstruída”, reconhece.
O grande medo do governo, neste momento, é que, independentemente dos sinais favoráveis emitidos aos agentes econômicos pelo Ministério da Fazenda, na área fiscal, e pelo Banco Central, no combate à inflação, o Congresso ponha a perder o pouco que se construiu desde que a presidente Dilma Rousseff optou por um caminho mais racional, sem as estripulias que marcaram o primeiro mandato e que estão custando caro ao país.
“Sabemos que o Congresso tornou-se um problema. Aprovar o aumento de até 78% para os salários do Judiciário foi só uma das muitas irresponsabilidades fiscais dos parlamentares. Mas vamos nos contrapor, sem agressões, sem partir para o confronto”, acrescenta um funcionário do Ministério do Planejamento. Ele acredita que a divisão no Supremo Tribunal Federal (STF) em torno do reajuste sinaliza que a decisão do Congresso será revertida sem traumas e os servidores terão de se contentar com o que o governo ofereceu: 21,3% ao longo de quatro anos.
Desconfiança
Esse discurso positivo dos técnicos é compreensível, mas está longe de empolgar quem acompanha o dia a dia da economia e o funcionamento do governo. Por mais que a Fazenda e o BC tentem difundir otimismo — o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, garante que a retomada do crescimento virá antes de a inflação convergir para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016 —, o que se vê é uma administração totalmente perdida, sem liderança, movida a egos e que passa a impressão de só trabalhar com improvisos. Por isso, o Congresso está provocando tantos transtornos ao Planalto.
Entre os especialistas, a sensação é de que a presidente Dilma entregou os pontos, com apenas seis meses de mandato. Nem mesmo o trabalho de convencimento do ministro Joaquim Levy e de Tombini de que o ajuste fiscal é para valer e de que a inflação cairá para níveis mais civilizados tem servido de conforto. A expectativa é de que, a qualquer momento, todas as promessas de reordenamento da economia serão abandonadas. Para se ter uma ideia desse ceticismo, não há hoje no mercado ninguém que acredite na capacidade da Fazenda de cumprir a meta de superavit primário de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
“Olhando para o governo que se tem hoje, temos que estar preparados para todo tipo de frustração. Trata-se de um governo fraco politicamente, sem representatividade, com um nível altíssimo de rejeição”, avalia um dos maiores empresários do país. “Diante disso, ninguém se arrisca a tocar projetos que possam contribuir para a retomada do crescimento”, assinala. “Quem tem dinheiro em caixa está sentado em cima de títulos públicos — esses, sim, investimentos rentáveis e sem riscos no mar de incerteza que vivemos”, emenda.
Para o empresário, não são apenas os donos do dinheiro a expressar desalento em relação ao Brasil. A população, acredita ele, está farta de tanta informação negativa vinda do governo. A cada dia surge uma denúncia nova de corrupção. A sensação é de que a máquina pública está podre. “Não bastasse a Petrobras, estamos descobrindo que a Receita Federal está infestada de irregularidades, assim como a Casa da Moeda e o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Como pedir paciência à população?”, indaga.
Sinais de problemas
» Gente graúda do mercado financeiro acredita que o sistema bancário passará por um novo processo de consolidação. Há bancos de pequeno e médio portes que estão com a corda no pescoço, vendo as receitas despencarem e a inadimplência subir. O Banco Central já detectou sinais de problemas.
O que teme Agnelo?
» Agnelo Queiroz, ex-governador do Distrito Federal, está circulando por São Paulo. Foi visto na quarta-feira almoçando no restaurante Spot, na Avenida Paulista. Estava acuado, temendo ser reconhecido. Assim que entrou no estabelecimento pediu para se sentar em uma mesa ao fundo. O que será que ele tanto teme?
Brasília, 00h01min