Se ficássemos apenas nesse ponto, teríamos uma tese para desenvolver, sem tempo nem espaço por ora. Mas isso explica de alguma maneira a defesa dos repórteres, pois sabem que não há possibilidade de uma nação desenvolvida sem uma imprensa forte e livre. Vide, por exemplo, o discurso do tenente-brigadeiro do ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, que assumiu na última sexta-feira, o cargo de Comandante da Força Aérea Brasileira (FAB).
“Quanto maior for o zelo com a higidez e a intelectualidade de nosso efetivo, maior será o retorno para a sociedade que por ele é protegida”, começou Bermudez, valorizando muito mais aspectos de inteligência do que de força. E completou: “Haveremos de continuar incentivando a perfeita relação com a mídia, que tanto contribuiu para a construção da reputação de nossa Força nesses 78 anos de existência, criando conteúdos relevantes, pois relevante é nossa missão, assim como é determinante o papel da imprensa nesta nossa conexão com a sociedade.”
A defesa de repórteres é feita por aqueles que sabem que uma nação só pode ser desenvolvida com o jornalismo valorizado
Por mais que se possa enumerar uma ou outra tentativa de desestabilização política de generais – elas ocorreram nos últimos momentos do governo Dilma -, o mesmo poderia ser dito de alguns setores econômicos. Na maior parte do período de redemocratização, porém, os militares mantiveram-se no lugar de militares. E só optaram por Bolsonaro de maneira declarada no segundo turno, ao contrário de categorias como a dos policiais federais.
Em relação ao pessoal da caserna, o mesmo ocorreu no discurso proferido pelo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. “A presença da mídia nos importa e nos conforta. Mais do que reproduzir notícia, ela nos avisa, nos cobra quando é necessário e sempre ajuda a dar transparência a nossas atividades.”
De certa forma, o Ministério da Defesa, unindo as três Forças, está consolidado, por mais que Bolsonaro tenha feito questão de esquecer no discurso o criador da pasta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A própria ausência na chefia de um civil no comando do ministério parece pacificada, por mais que uma grita tenha sido estabelecida no momento da posse do antigo comandante da pasta, o também general Joaquim Silva e Luna, durante o governo Temer.
Por mais que o discurso de Bolsonaro tenha a clara intenção de manter acesa a polarização partidária em benefício próprio, afinal, a oposição ainda aparece perdida, o jogo para torcida uma hora cansa, caso os resultados não sejam alcançados em algum momento. Um fato: uma parcela do eleitorado anti-PT o defende sob qualquer circunstância — aqui, um mérito do capitão da reserva —, mas tal ação pode não manter a popularidade entre os correligionários, quiçá aumentar a margem de apoiadores para quem não votaram nele.
O jogo está ainda no início, nada garante que a tônica será a descrita acima durante os próximos movimentos do Palácio do Planalto, pois, como dizem os próprios apoiadores do capitão reformado, o governo é para defender todos os brasileiros.
Brasília, 07h05min