A ala mais radical do governo promete marcação cerrada sobre o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Com o movimento pelo impeachment ganhando corpo — as manifestações nas ruas só crescem —, esse grupo acredita que Mourão já está se preparando para vestir a faixa presidencial de Jair Bolsonaro.
“Qualquer um que prestar atenção no comportamento de Mourão nos últimos dias verá que ele vem se posicionando como contraponto ao presidente”, diz um aliado de Bolsonaro. “A sensação que temos é a de que ele vê chances reais de se sentar na cadeira mais importante do Palácio do Planalto”, acrescenta.
A visão de que Mourão já teria sido picado pela mosca azul parte, sobretudo, dos filhos de Bolsonaro. Eles não gostam de Mourão e sempre alimentam o clima de conspiração, de que o vice joga contra o presidente.
Quem conhece Mourão a fundo, no entanto, afirma que não há a menor possibilidade de ele trair Bolsonaro. “Muito pelo contrário. Mesmo sendo maltratado pela ala ideológica do governo, mesmo sendo perseguido pelos filhos do presidente, o vice mantém a lealdade a Bolsonaro”, frisa um amigo.
Esse mesmo amigo ressalta, porém, que também Bolsonaro tem agido de forma, no mínimo, desrespeitosa em relação a Mourão. Os dois pouco se falam. O vice quase nunca é chamado para participar de decisões importantes do governo.
“Com certeza, há um temor de uma ala do Planalto de que Mourão traia Bolsonaro como Michel Temer traiu Dilma Rousseff. A teoria da conspiração corre solta entre os filhos do presidente e entre integrantes do grupo ideológico”, diz uma fonte com assento no Planalto.
Para essa fonte, Mourão deve se preparar para o aumento do tiroteio contra ele à medida que o debate sobre o impeachment de Bolsonaro esquentar. “Ninguém se espantará se esse grupo ideológico disser que o vice está por trás das articulações para afastar o presidente do poder”, ressalta.
Brasília, 18h02min