Brasília não perdoa. Dois meses depois de chegarem à cidade com a fama de superministros, Sérgio Moro, da Justiça, e Paulo Guedes, da Economia, ficaram menores. O presidente Jair Bolsonaro tratou de mostrar aos dois que o poder que achavam que tinham não é tão grande assim. Não devem, portanto, serem vistos, como fiadores do governo.
Moro teve que recuar na nomeação da especialista em segurança pública Ilona Szábo como suplente do Conselho de Política Criminal. Ela é contrária ao afrouxamento das regras de acesso a armas, proposta de campanha que Bolsonaro que está sendo colocada em prática. Bolsonaro preferiu seguir o que seus seguidores nas redes sociais pediam, em vez de apoiar seu ministro.
Guedes, por sua vez, foi desmoralizado pelo chefe, que, antes mesmo de a proposta de reforma da Previdência começar a tramitar no Congresso, admitiu que pode ceder em vários pontos, a começar pela redução da idade mínima de aposentadoria de mulheres, de 62 para 60 anos, e pelo BPC, programa de atende idosos pobres.
Clima ruim
Depois do desgaste imposto aos dois ministros, o clima dentro do governo é de apreensão. Teme-se que o processo de desqualificação se torne rotina, o que será péssimo para o governo. Moro e Guedes são referências quando se pensa em equilíbrio dentro de uma administração que vem sendo marcada por muitas polêmicas e recuos.
A ordem na Esplanada, porém, é manter o discurso de que os ministros da Economia e da Justiça nunca estiveram tão fortes, e que desavenças são normais. Quem conhece Brasília sabe que, quando as coisas começam assim, o destino é um só: o abandono do governo.
Bolsonaro, dizem técnicos experientes, deve ficar atento. Se continuar metendo os pés pelas mãos, pode empurrar seu governo ladeira abaixo. Moro é o sustentáculo de um governo que vem sendo ligado a um laranjal de candidaturas irregulares nas eleições. Guedes é visto pelos donos do dinheiro como a garantia de que a reforma da Previdência, fundamental para o equilíbrio das contas públicas, será feita sem abrir mão da economia prometida de R$ 1,1 trilhão em 10 anos.
Brasília, 10h07min