ROSANA HESSEL
A América Latina tem poucos vínculos econômicos e financeiros diretos com a Rússia e a Ucrânia e pode ter efeitos menores; no entanto, o aumento dos preços da energia e a nova rodada de choques de abastecimento limitam o acesso às principais commodities agrícolas e industriais, o que resulta em aumento da inflação e probabilidade de continuidade do aumento dos juros pelos bancos centrais, comprometendo o crescimento, alertou a agência de classificação de risco norte-americana Moody’s, em relatório para investidores.
“O aumento dos preços do petróleo, alimentos e metais influenciam a inflação, o que levou a um aumento da taxa anual média na América Latina para 7,3% em fevereiro, contra 2,8% no mesmo período do ano passado”, disse Gersan Zurita, vice-presdiente sênior da Moody’s. “Esperamos que as pressões inflacionárias diminuam no segundo semestre do ano, mas a inflação permanecerá bem acima das metas dos bancos centrais”, acrescentou a nota da agência.
Agência reduziu de 3,5% para 3% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina, uma média ainda acima da média anual registrada entre 2015 e 2019, de 2,5%. A instituição espera crescimento de apenas 0,1% do PIB do Brasil, principal economia da região, neste ano, e estima alta de 1,1% no PIB do México.
De acordo com o documento da Moody’s, um dos efeitos da guerra da Ucrânia é a desaceleração da economia global e a América Latina não ficará incólume, apesar de os efeitos poderem ser menores do que em demais regiões.
“A dinâmica da inflação vai arrastar o crescimento da América Latina para baixo. A aceleração do preço do combustível e os aumentos dos preços dos alimentos estão aumentando as pressões de custo existentes e as restrições da cadeia de suprimentos. A inflação mais alta moderará o consumo, enquanto o aperto da política monetária afetará negativamente afetar a dinâmica do investimento de curto prazo” destacou o relatório.
Os preços mais altos das commodities beneficiarão os produtores de energia, mas aumentarão os custos de insumos para agricultura e transportes, de acordo com a Moody’s. A entidade lembrou que a recente alta do petróleo beneficiará os produtores de energia em países onde os preços seguem a paridade de preço internacional. “Mas o o aumento dos preços dos fertilizantes e a escassez de suprimentos farão com que as compras dos agricultores mais difíceis para a safra 2022-2023, já que o Brasil recebe a maior parte de sua fertilizantes da Rússia, mas os preços mais altos das safras darão alguma proteção aos agricultores. Mais alto os preços dos combustíveis prejudicarão as companhias aéreas se elas não conseguirem aumentar as passagens aéreas o suficiente para compensar”, acrescentou o texto.
O documento ainda destacou que o acesso restrito às matérias-primas terá efeitos limitados nos setores manufatureiro e de infraestrutura. Os fornecedores de autopeças, por exemplo, deverão mudar a produção para veículos menos dependentes de semicondutores se a escassez de chips continuar ou piorar. Apesar dos distúrbios nos canais de distribuição, as empresas de infraestrutura, cuja capacidade instalada está em expansão, não deverão enfrentar aumento de custos acima do esperado devido. aos acordos de construção com preços fixos.
“As instituições financeiras da América Latina estão relativamente protegidas das sanções contra a Rússia porque possuem vínculos limitados com os países envolvidos no conflito militar. Portanto, os riscos de segurança cibernética e riscos de compliance de sanções são limitados. A maior parte dos efeitos serão indiretos e se materializarão em termos de riscos macroeconômicos”, acrescentou o texto.