Amazônia Foto: CARL DE SOUZA/ AFP

Moody’s: desmatamento aumenta riscos e afeta reputação de empresas brasileiras

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O desmatamento no Brasil é um problema sério para o meio ambiente e também para as empresas brasileiras. O aumento da devastação das florestas deve afetar negativamente a reputação, inclusive, reduzindo a oferta de crédito e a receita dessas corporações, de acordo com relatório da Moody’s divulgado nesta quinta-feira (2/11).

 

“O desmatamento e os riscos relacionados ao clima podem, rapidamente, se tornarem significativos para a qualidade de crédito, se o escrutínio regulatório e da sociedade se intensificar”, disse Barbara Mattos, vice-presidente sênior da Moody’s, em nota da empresa. Embora nem sempre sejam imediatamente relevantes para a qualidade do crédito corporativo, “esses perigos incluem riscos reputacionais e redução de receita devido a boicotes e embargos”, de acordo com o documento. “Diante do comprometimento de governos e investidores com mais ações para acabar com o desmatamento, o escrutínio sobre os danos ambientais causados pelo ser humano provavelmente aumentará e pode resultar em riscos reputacionais”, adicionou.

 

A entidade reforçou que o desmatamento pode ter implicações significativas para as mudanças climáticas, e, por conta disso, destacou que líderes de mais de 100 países, incluindo o Brasil, se comprometeram a acabar com o desmatamento até 2030, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de novembro de 2021 (COP26) em Glasgow, na Escócia.

 

A Moody’s lembrou que os governos de 28 países também se comprometeram a remover o desmatamento do comércio global de alimentos e outros produtos agrícolas, como óleo de palma, soja e cacau, e mais de 30 instituições financeiras comprometidas com a eliminação desmatamento impulsionado por commodities de seus investimentos e carteiras de empréstimos até 2025. “Este anúncio, provavelmente, intensificará o escrutínio regulatório e político sobre o desmatamento, e pode resultar em proibições de exportações e riscos de reputação”, alertou.

 

No mês passado, dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) revelou que o desmatamento nos nove estados da Amazônia Legal aumentou 22% entre agosto de 2020 e julho de 2021, somando 13,2 mil km2, a maior devastação para o período desde 2006. Esse número foi omitido pelas autoridades brasileiras na COP26, o que foi péssimo para a imagem do país no exterior, porque, além das pedaladas nas dívidas judiciais prevista com a PEC dos Precatórios, o governo está pedalando até os números de desmatamento.

 

De acordo com a agência, “estudos mostram que o desmatamento na Amazônia já levou a uma queda significativa nas chuvas”. “O desmatamento no Brasil tem implicações significativas para o balanço global de CO2 na atmosfera. Enquanto a Amazônia tem sido uma importante sumidouro de carbono nas últimas décadas, estudos mostram que o aumento das temperaturas, secas e desmatamento cortam seu orçamento de carbono  em cerca de um terço na última década. À medida que o desmatamento no Brasil continua, o mesmo acontece com as emissões da conversão de florestas em terras agrícolas”, destacou o relatório.

 

O documento acrescentou que, as secas e o estresse térmico aumentaram a extensão e a duração dos incêndios florestais, que também aumentaram aumento das emissões de carbono.  “Mesmo com um dos setores de energia menos intensivos em carbono do mundo, com energia hidrelétrica compreendendo 80% de sua geração de energia, o contínuo desmatamento do Brasil impedirá o país de atingir sua meta no Acordo de Paris de um Redução de 37% nas emissões em relação aos níveis de 2005 até 2025”, complementou.

 

No relatório, a Moody’s destacou que a economia brasileira é umas dos maiores exportadoras de produtos agrícolas do mundo e muito dependente de commodities. As florestas naturais e as plantadas cobrem 59% do território nacional. No ano passado, os setores agrícola e de proteína, cujo crescimento tem sido a causa principal do desmatamento do bioma da Amazônia e do Cerrado, nos últimos 20 anos, representaram 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e metade das exportações do país, informou a agência.