Moody’s: Bancos devem perder 8% da receita tarifária com o Pix

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ROSANA HESSEL

Com o início do cadastro dos bancos para o Pix, plataforma de pagamentos instantâneos desenvolvida Banco Central e que será lançado em novembro, a agência de classificação de risco Moody’s prevê que o novo sistema vai corroer a receita dos bancos brasileiros. A entidade estima uma queda de até 8% nas receitas com tarifas das instituições financeiras que estão entre as empresas mais rentáveis do país, mesmo durante as crises.

“O Pix será um concorrente direto dos sistemas de pagamento existentes, incluindo TED e pagamentos com cartão de débito por causa de seu sistema digital mais barato e rápido”, destacou o comunicado da Moody’s divulgado nesta terça-feira (06/10).  A estimativa foi feita com base nos dados acumulados de 12 meses até junho.

A agência lembrou que os bancos, atualmente, cobram uma taxa fixa de transferências de dinheiro entre contas bancárias individuais, mas a PIX não cobra essas tarifas que compõem a receita dos bancos. Desde 2017, as transferências via TED (Transferência Eletrônica Disponível) cresceram 31% em média, de acordo com dados a Moody’s.

Para a agência, o novo sistema surge em um momento em que as taxas de juros estavam em queda recorde e riscos de ativos relacionados à pandemia estão pressionando as margens líquidas nos juros dos bancos e lucratividade. Em junho, o índice de lucro líquido dos bancos brasileiros avaliados pela Moody’s, em relação aos ativos tangíveis, era de 0,9%, abaixo de uma média de 1,4% durante 2017 e 2019. “As despesas com provisionamento, que aumentaram 42% no primeiro semestre de 2020 em relação ao ano anterior, também irão pressionar a lucratividade”, destacou a nota.

Vários bancos desenvolveram tecnologias de pagamento instantâneo, mas contam com os participantes como seus clientes e cobram taxas de cerca de 1% sobre essas transferências. O sistema do Pix funcionará 24 horas por dia durante ao ano e as transferências não serão cobradas. Todos os bancos e empresas de pagamento (incluindo fintechs) com 500 mil clientes ou mais são obrigados a aderir a ele, afetando a grande maioria dos bancos de varejo e particularmente os maiores que dominam o tradicional sistema de pagamentos, segundo a Moody’s.

Ontem, 3,5 milhões de pessoas fizeram cadastro para usar o Pix. O novo sistema também deverá reduzir o uso de dinheiro, diminuindo os custos de segurança e de transporte no sistema bancário brasileiro, destacou a agência.

Vicente Nunes