O rastro de destruição que resultou das políticas adotadas nos últimos anos está amplamente documentado: a recessão que não termina, a crise política em estado permanente de agravamento, o desemprego galopante. Os governos de Lula e, sobretudo, de Dilma, são apontados como os principais causadores do desastre. Contudo, Temer, o lobo não-reformista que fez de tudo para travestir-se de cordeiro reformista, tem sua parcela de culpa ao ter compactuado com a companheira de chapa. Agora, ensaia os primeiros passos do dilmismo falido em tentativa desesperada de salvar o seu mandato.
Quem paga por todos os despautérios da antiguidade que permeia a política nacional e o desgoverno? Evidentemente, toda a sociedade, sobretudo os mais pobres. Ao final de 2016, a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (a Pnad do IBGE) mostrava que cerca de 4 milhões de indivíduos haviam retornado à pobreza, condição de vida de cerca de 10% da população do País. O número estava associado à recessão de 2015, quando o PIB encolheu 3,8%. Extrapolando esse resultado para 2016, quando a economia encolheu em magnitude quase semelhante, é provável que ao menos mais uns 3,5 milhões de pessoas tenham caído na vala da pobreza, somando mais de 7 milhões de “novos pobres” em apenas dois anos. Por que essas pessoas não conseguiram escapar de destino demasiado cruel?
De um lado, o trágico legado da heterodoxia brasileira dos últimos anos foi a ausência de uma política de qualificação profissional e de educação eficaz. Entre 2003 e 2014, o desemprego caiu vertiginosamente, porém impulsionado pela abertura de vagas para pessoas com baixo nível educacional, sobretudo no setor de serviços. Era inevitável que, quando a conta dos desvarios econômicos chegasse, esses indivíduos seriam atingidos em cheio pela reversão de fortunas. Alguns culpam o excesso de assistencialismo pela perpetuação da pobreza, mas esse é bode expiatório demasiado fácil. Um país tão desigual quanto o Brasil não tem como não se amparar em políticas assistencialistas, ainda que o desenho dessas medidas deva sempre ser aprimorado.
A experiência internacional mostra, sem grandes controvérsias, que é pela via da educação que a pobreza é reduzida. Mas, os governos anteriores, e, sobretudo o governo atual, não dedicaram muita atenção a essa questão. Enquanto o governo Temer prepara-se para lançar novo pacote de supostas bondades que mais distorções econômicas deverá gerar, aumenta a pobreza e o desalento de uma parte relevante da população para quem as promessas resultaram em desengano. Para os que insistem em defender a estabilidade altamente instável de Michel Temer, cabe um momento de reflexão sobre os pobres do Brasil. Eles, afinal, são ainda muito numerosos. E, a parcela da sociedade que representam só faz aumentar com a política velha que insiste em se perpetuar.
(*) Monica de Bolle é pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington