ROSANA HESSEL
Após a ducha de água fria nos dados Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, com queda de 0,1% após dado negativo revisado de 0,4% nos três meses anteriores, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia tentou minimizar o resultado e evitou falar em recessão técnica (quando há dois trimestres consecutivos seguidos de PIB negativo).
“Mais importante do que considerar o número do crescimento, é observar a sua qualidade”, destacou o documento divulgado nesta quinta-feira (2/11). A SPE destacou que a taxa de poupança chegou a 18,6% do PIB no terceiro trimestre, “retornando ao nível do mesmo trimestre de 2014”, e a taxa de Investimento em relação ao PIB 19,4%, recuperando o patamar do começo da década passada.
“Destaca-se a melhora na qualidade do crescimento. Se até 2013 o investimento era, em grande parte, financiado com recursos públicos, hoje o investimento é financiado majoritariamente pelo setor privado: os recursos, através de decisões do setor privado, vão para onde é mais eficiente e não mais para onde o Estado determina”, reforçou a nota técnica. O documento destacou que a redução de direcionamento de crédito é fundamental para retomada do investimento e, até 2015, foi crescente a participação dos recursos direcionados no total do crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Na avaliação da SPE, o dado do PIB, “caracteriza-se um cenário de estabilidade da atividade”. ” Ressalta-se que os números do mercado trabalho recentemente divulgados reforçam resiliência da recuperação da atividade pelo ângulo deste mercado, levando-nos a crer que um cenário pessimista da atividade econômica é pouco provável”, acrescentou.
Crise hídrica
A nota da SPE destacou a crise hídrica como principal causa da queda de 8% da agropecuária na comparação com o trimestre anterior. Esse tombo produziu impacto de -0,5% no PIB de julho a setembro, pelos cálculos da secretaria. “Se fosse zerada a variação da agropecuária na margem, o PIB cresceria na ordem de 0,3% a 0,4% no 3T21 em relação ao segundo trimestre”, destacou. “Conforme explicado pelo IBGE, o resultado da agropecuária reflete desempenho negativo de alguns produtos da lavoura que têm safra no terceiro trimestre, tais como milho, laranja e cana-de-açúcar. Há também efeitos de produtividade no resultado divulgado, que podem ser analisados pela estimativa da variação da quantidade produzida em relação à área plantada”, acrescentou o documento.
“É fundamental distinguir o que é política econômica de fatores climáticos adversos e pontuais da natureza. A maior crise hídrica em 90 anos de história e a ocorrência de severas geadas tiveram impacto tanto em setores intensivos em energia como em setores que dependem do clima, como agricultura. Ademais, deve-se salientar a forte elevação dos custos de produção como adubos, fertilizantes e denfensivos. A política econômica, focada em aumento de produtividade, mostrou resultado com a maior taxa de investimento para o terceiro trimestre desde 2014”, ressaltou da nota da SPE.