Meta de inflação de 4%

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Há um movimento no mercado pressionando o governo a antecipar a definição da meta de inflação que vigorará em 2019. Por lei, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tem até junho próximo para não só ratificar o objetivo a ser perseguido pelo Banco Central em 2018, que está em 4,5%, podendo variar 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima, como também anunciar a meta do ano seguinte. Para os analistas, seria superpositivo se o CMN anunciasse logo esse número e, melhor, o reduzisse. Em vez de 4,5%, o centro da meta seria menor, provavelmente de 4%.

A expectativa em torno da decisão do Conselho Monetário aumentou porque há, hoje, a tradicional reunião do colegiado. E, curiosamente, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, terá um encontro antes do CMN com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ambos defensores de uma meta menor de inflação. O raciocínio dos analistas é claro: como há todo um clima positivo em relação ao custo de vida e como o BC já avisou que manterá o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, seria importante dar um sinal ainda mais forte de comprometimento com o combate à carestia.

Com uma meta de inflação menor em 2019, os especialistas acreditam que as projeções do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que estão ancoradas em 4,5% até 2020, tenderiam a cair, deslocando-se para algo entre 3,5% e 4%, permitindo ao BC ser ainda mais ousado nos cortes dos juros.

“Esse é o momento para se corrigir as aberrações com as quais convivemos”, admite um integrante da equipe econômica. “A nossa meta de inflação é a mais alta entre os países que adotam esse sistema. Assim como o governo está propondo reformas na Previdência e nas leis trabalhistas, deveria ser mais duro na definição da meta inflacionária. Temos que mostrar que o país pode conviver com juros de um dígito sem que o custo de vida saia do controle”, acrescenta.

Divergência

Apesar dos argumentos sólidos da equipe econômica a favor de uma meta de inflação menor, há um grupo que vê nessa proposta um empecilho para uma retomada mais forte do crescimento. “Para chegarmos a uma inflação de 4%, por exemplo, o BC terá que ser mais rigoroso com os juros”, assinala um integrante do Palácio do Planalto. Ele assinala que, neste momento, com a economia tão combalida, o governo não deveria ser “tão radical”.

“A ideia é boa. Mas é preciso discuti-la mais. Esse debate ainda está muito restrito ao mercado financeiro. Creio que tanto o presidente do BC quanto o ministro da Fazenda já tocaram no tema. Contudo, não o vejo na lista de prioridades. Não agora”, ressalta o assessor palaciano. Ele destaca, porém, que não se deve descartar a possibilidade de se definir uma meta de inflação menor para 2019. Nem que isso ocorra antes de junho. “Tudo dependerá dos argumentos que Ilan e Meirelles vão apresentar ao presidente Michel Temer”, enfatiza.

Para o Planalto, nada é mais imperioso agora do que tirar o país da recessão e estancar a destruição de empregos. “É uma questão política”, afirma um ministro. No entender dele, a economia precisa mostrar força logo para que a o governo tenha argumentos mais sólidos para convencer o Congresso da importância das reformas trabalhista e da Previdência. “Mais que isso. É importante criar um escudo contra as denúncias da Lava-Jato, que atingirão o ápice com a delação da Odebrecht. Sabemos que gente graúda cairá e que o governo vai apanhar muito”, emenda.

Bradília, 00h39min

Vicente Nunes