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Mercado reage com queda após discurso mais duro do presidente do Fed

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O discurso mais duro com a inflação de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), no simpósio de Jackson Hole, no estado de Wyoming, acabou jogando um balde de água fria nas bolsas, nesta sexta-feira (26/8). Em Nova York, o mercado de ações operava no vermelho, com queda de acima de 3% no Índice Dow Jones. E, no Brasil, não foi diferente. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) registrava perdas em torno de 1%, abaixo de 113 mil pontos da abertura.

 

Analistas avaliam que, com o Fed sinalizando maior preocupação com a inflação, haverá uma nova alta de 0,75 ponto percentual nos juros básicos — atualmente entre 2,25% e 2,50% ao ano — na próxima reunião do comitê de política monetária do Fed, o Fomc.

 

“As bolsas caíram mais após o discurso de Powell. Ele reforçou a postura de seguir apertando juros até a inflação dar mais sinais de desaceleração. Indicou, com eufemismos, que preferem combater a inflação mesmo que resulte em recessão”, destacou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. As bolsas europeias fecharam no vermelho, de olho no pronunciamento do presidente do Fed.

 

“Powell deixou claro que o Fed tem como objetivo trazer a inflação para o nível de 2% ao ano e que, para isso, a economia crescerá abaixo da tendência por alguns trimestres. Esse discurso está em linha com nosso cenário de continuidade de altas de juros nos EUA, atingindo 4% em 2023”, destacou o relatório da equipe técnica de Fernando Honorato, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Segundo a nota, o discurso do presidente do Fed foi duro, não descartando uma alta de 0,75 p.p. na próxima reunião e ainda sugere que os juros seguirão subindo “e permanecerão em nível elevado.”

 

Para o analista  John Canavan, da Oxford Economics, o discurso de Powell mostrou um Fed menos tolerante com a inflação, ou seja, mais “hawkish”, sinalizando uma realidade nova e duradora da inflação. “É provável que os mercados permaneçam voláteis no futuro próximo, uma vez que a incerteza sobre a inflação e o crescimento econômico mantêm as perspectivas do Fed em fluxo. O discurso hawkish do presidente do Fed, em Jackson Hole, reforçou nossa visão de que o Fed irá optar por outro aumento de 75 pontos-base na próxima reunião, em vez de reduzir o ritmo para 50 pontos-base”, destacou.

 

De qualquer forma, o Fed ainda está a caminho de aumentar as taxas em mais 125 pontos-base antes do fim do ano, de acordo com o analista. “Isso ajudará a manter os mercados de tesouraria de curto prazo mais altos para os rendimentos, mesmo que aumente o impulso de achatamento da curva devido aos riscos econômicos de um Fed mais agressivo”, acrescentou.

 

De acordo com Canavan, a taxa implícita dos fundos federais de pico do mercado também aumentou de 3,20% para cerca de 3,80% anuais para março do próximo ano, o que representa “um aumento significativo”.

 

“O discurso mais hawkish do presidente do Fed mostrou que eles pretendem ser mais duros nas próximas reuniões porque pretendem trazer a inflação para 2% mais rápido, mesmo que isso derrube a economia. Eles estão tolerando uma recessão e suave, desde que não dure muito tempo. E, para isso, é preciso uma ação rápida e incisiva a curto prazo”, avaliou Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset.

 

Hegedus ressaltou ainda que a tendência é de queda na Bolsa brasileira diante desse novo cenário de juros nos Estados Unidos mais altos. “Aperto na política monetária dos EUA significa migração de recursos para lá. É o flight to quality, ou seja, uma saída de investimentos da bolsa brasileira em direção ao mercado norte-americano”, explicou.