O desfile de Sete de Setembro foi emblemático: mostrou o quanto a presidente Dilma Rousseff está isolada. Em vez de uma festa popular, para celebrar uma data tão importante para o país, o que se viu ontem foi uma Esplanada dos Ministérios restrita a poucos eleitos e a uma claque sem entusiasmo, todos cercados por um muro para evitar constrangimentos à petista. Mesmo de longe, porém, a chefe do Executivo pôde ouvir os gritos de protestos. A insatisfação popular com o governo é latente. A situação é tão complicada que Dilma sequer teve coragem de ir à tevê fazer o tradicional discurso à Nação. Optou por um pronunciamento pela internet, impessoal, no qual assumiu que errou — e muito — na gestão da economia. A presidente preferiu não passar pelo vexame de mais um panelaço. Esse distanciamento do distinto público, no entanto, é o pior sinal que um chefe de Executivo pode dar ao país. A impressão é de que se chegou ao fim da linha. Nada do inferno que Dilma está vivendo foi criado pelos inimigos. Muito pelo contrário. Foi ela a única responsável. Desde que tomou posse no primeiro mandato, a presidente acreditou que poderia rasgar toda a cartilha econômica que livrou o Brasil da hiperinflação e implantar um modelo ultrapassado, em que o Estado daria as cartas. Para isso, não se furtou de trazer de volta a inflação e destruir as finanças do país. Mesmo com todos os alertas, não abriu mão de convicções equivocadas, que, agora, estão cobrando um preço elevado, inclusive o risco de ela ser afastada do poder. Até entre os poucos aliados que ainda cultiva, a sensação é de que Dilma não avançará muito mais. O argumento é de que não há como uma presidente se manter no cargo com medo de encarar o povo. Há, entre os eleitores, a percepção clara de que, a despeito do discurso da petista de que ela está disposta a mudar, nada de efetivo será feito. O governo perdeu o time e a capacidade de aglutinar forças para tirar o país do atoleiro. Recessão e dólar
» Para o economista-chefe do Santander, Maurício Molan, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que será divulgada na quinta-feira deve revelar que o Banco Central detectou que o aprofundamento da recessão econômica compensou o impacto da alta do dólar sobre a inflação. Dinâmica da inflação
» Na visão de Molan, é importante que o BC ressalte os riscos à dinâmica do custo de vida e reforce o comprometimento com a convergência da inflação para o centro da meta até o fim de 2016. Com isso, acredita o especialista, não haverá motivos para se mexer na taxa de juros, de 14,25% ao ano, tão cedo. Mais um mito que cai
» A Confederação Nacional da Indústria (CNI) analisou as exportações industriais das 41 maiores multinacionais brasileiras, nos últimos anos, e percebeu que a expansão das atividades das empresas no exterior gera ganhos às exportações do país. A conclusão, diz a entidade, desmonta um mito dentro do governo de que investimentos no exterior afetam as exportações e os empregos nacionais. Força para competir
» Pelas contas da CNI, nos últimos treze anos, a taxa média de crescimento das exportações das multinacionais brasileiras foi de 12,4%, contra 10,3% da indústria de transformação. Essa diferença se acentua a partir de 2012, quando as exportações da indústria de transformação caíram 10,3% e as das múltis cresceram 0,9%. “A internacionalização favorece as exportações, e o investimento no exterior fortalece a posição competitiva da empresa no Brasil”, diz Soraya Rosar, da CNI.
Brasília, 00h01min