ROSANA HESSEL
Em função dos atrasos no programa de vacinação nacional contra a covid-19 no país, a MB Associados piorou a previsão para a economia brasileira no primeiro trimestre de 2021, aprofundando de 0,1% para 0,8% a expectativa de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de janeiro a março, na margem, ou seja, na comparação com os três meses anteriores. A consultoria, inclusive, não descarta o risco de, na primeira metade do ano, ocorrer nova recessão técnica, quando há o registro de dois trimestres negativos consecutivos.
“Depois de várias fotos das primeiras vacinas tomadas, a população devera viver os próximos meses em compasso de espera. Dificilmente haverá chance de aceleração próxima da vacinação, e, por isso, seguiremos vendo a economia bastante afetada no primeiro trimestre”, informou Sergio Vale, economista-chefe da MB. Em entrevista ao Blog, ele alertou para o risco de nova queda no segundo trimestre, de 0,3%. Apesar da revisão das estimativas, Vale manteve em 2,6% a previsão de crescimento do PIB, em 2021, após recuo de 4,2% no ano passado.
Conforme o relatório da MB divulgado nesta sexta-feira (05/02), o PIB do primeiro trimestre deve encolher 2,6% em relação ao primeiro trimestre de 2020, depois de uma queda de 1,5% no quarto trimestre na mesma base de comparação interanual.
Selic volta a subir
Em razão do aumento das incertezas, especialmente na área fiscal, o Banco Central já sinalizou a retomada do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), apesar do cenário negativo para a atividade econômica na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2021.
Pelas previsões de Vale, ainda não está claro se o BC iniciará a elevar a Selic em março, mas ele antecipou de junho para maio a volta do ciclo de alta dos juros básicos, que devem dobrar até o fim do ano, encerrando dezembro em 4,1% anuais.
Desigualdade maior
O especialista lembrou que, conforme um levantamento feito pela consultoria, o estrago da pandemia na população mais vulnerável foi grande. Os dados apurados mostram que a desigualdade aumentou durante a pandemia, com a fatia de brasileiros na Classe D, passando de 55,1%, no terceiro trimestre de 2019, para 64,3% no terceiro trimestre de 2020.
Apesar desse cenário ruim, o economista fez questão de reforçar o otimismo com o processo de avanços dos laboratórios na descoberta de imunizadores contra a covid-19. “A ciência conseguiu um feito histórico de conseguir diversas vacinas e menos de um ano, o que não é pouco”.
Para Vale, há muita chance de a vacinação atingir 70% da população no fim do ano, o que daria uma condição de imunidade de rebanho. Contudo, ele alertou riscos pelo caminho, como as novas cepas do novo coronavírus não serem combatidas pelas vacina.