MAR DE INCERTEZAS

Publicado em Sem categoria

O país do samba e do futebol está mais dividido do que nunca. E, pior, mergulhado na incerteza. Depois de 24 anos, um processo de impeachment está em andamento e não se sabe que Brasil teremos se a presidente Dilma Rousseff continuar no poder ou se ela for retirada do Palácio do Planalto. Nesse ambiente tão hostil, a única certeza é que a beligerância nas ruas vai aumentar e a economia, que agoniza, mergulhará num abismo profundo.

 

Nada do que assistimos hoje foi resultado do acaso. Desde que tomou posse, Dilma fez as escolhas erradas. Destruiu item por item dos pilares da estabilidade que permitiu à administração anterior fazer um dos mais exitosos programas de inclusão social do mundo. Apesar de todos os alertas, preferiu atacar os críticos, acusando-os de sabotadores. Dona de si, menosprezou a política, convencida de que teria força suficiente para aprovar o que quisesse no Congresso.

 

Na campanha à reeleição, não se intimidou em estimular a divisão do país, ao desqualificar seus adversários. Insuflou o quanto pôde o nós contra eles. Para isso, não economizou nas inverdades. Agora, prova do próprio veneno. Ao ser pega na mentira, viu a popularidade ruir. A base de apoio no Congresso se esfacelou. Com o mandato ameaçado, foi obrigada a recorrer a seu criador, Lula, beneficiado com o foro privilegiado ao ser nomeado ministro da Casa Civil.

 

Corrupção

 
Dilma tem certeza de que está viva o suficiente para chegar ao fim de 2018 com o país de pé. Seus assessores usam as manifestações de ontem em defesa do governo como o mais claro sinal de que o PT é capaz de movimentar as massas, que lhe serão fiéis nas próximas eleições. A leitura que se faz no Palácio do Planalto é a de que Lula, mesmo com todas as denúncias de corrupção que pairam sobre ele, tem força suficiente para derrotar o impeachment e ser eleito novamente.

 

Na avaliação do Planalto, apesar de todo o desgaste do governo, Lula é o candidato mais viável para suceder Dilma. Integrantes do PT ressaltam que nenhum candidato de oposição conseguiu ocupar espaço entre o eleitorado. Há, sim, um sentimento de repúdio em relação à corrupção na Petrobras desvendada pela Lava-Jato, mas a falta de alternativa acaba fazendo com que parcela importante da população se apegue ao histórico do líder petista. Prevalece o entendimento de que o PT e Lula são corruptos, mas não tanto quanto representantes do PMDB e do PSDB.

 

A meta do governo é explorar ao máximo a figura de Lula, vitimizando-o. A ordem é bater pesado no que muitos juristas classificam como excessos da Justiça. Os petistas querem consolidar a imagem de que o juiz Sérgio Moro também comete erros, e está agindo mais de forma política do que técnica. Essa tese foi muito comentada nas manifestações de ontem. Foi a base do discurso usado pelos intelectuais que saíram às ruas em defesa de Dilma e de Lula.

 

Desconfiança

 

A despeito da força que o governo acredita que tem e quer ressaltar, os agentes econômicos, em grande maioria, dão o impeachment como certo. Nos cálculos de analistas do mercado financeiro, é de 80% a probabilidade de Dilma ter o mandato interrompido. Essa certeza faz com que poucos deem atenção aos apelos da equipe econômica para que os negócios sejam retomados, pois, independentemente da crise política que embaça o horizonte, o potencial do país é enorme.

 

Esse discurso é difundido, principalmente, pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Mas, para empresários e investidores, como Dilma está com os dias contados, o chefe da equipe econômica está vendendo vento. Ontem, anunciou uma série de medidas com o intuito de retomar a confiança e o crescimento econômico. Quase ninguém lhe deu ouvidos. Barbosa já é visto como quase ex-ministro. Não há, portanto, porque lhe dar crédito.

 

Em meio a tanto descrédito, os dias que estão por vir prometem muita emoção. O país travará um embate que nunca se viu na história. O risco de as divergências ideológicas descambarem para a violência é enorme. Tomara que prevaleça o bom senso. E, melhor, possamos ter inteligência suficiente para escolher o melhor caminho. Já perdemos tempo demais insistindo nos erros.

 

Brasília, 07h25min