Mansueto já fala como integrante da equipe de Meirelles

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POR ROSANA HESSEL

O roteiro é sempre o mesmo. Primeiro, nega-se o convite. Depois, escreve-se algo na linha do pensamento do governo. Foi assim com Tony Volpon antes de ele assumir a diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central, será assim com o economista Mansueto Almeida, que integrará a equipe de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda.

Na sexta-feira, em seu Blog, Mansueto negou o convite de Meirelles. Hoje, publicou, no mesmo espaço, uma análise sobre a situação do país e a importância de uma agenda que contemple o ajuste fiscal. Na visão dele, a arrumação das contas públicas, que pode registrar rombo de até R$ 150 bilhões neste ano, passa, necessariamente, por mudanças a serem aprovadas pelo Congresso.

“Se não estivermos como sociedade dispostos a revisar regras do crescimento da despesa pública, isso significa que a única forma de se fazer o ajuste e evitar o agravamento da crise fiscal será via aumento da carga tributária”, diz Mansueto. Ele pergunta: “E se a sociedade não quiser pagar mais impostos?”. E acrescenta: “Se não quisermos controlar o crescimento da despesa nem aumentar a carga tributária para pagar esse crescimento de receita, o ajuste será feito de forma desorganizada, pela inflação e com o aprofundamento da crise”.

Mansueto está cotado para a Secretaria do Tesouro Nacional. Para ele, “se o governo Temer não tiver sucesso, todos nós perderemos”. Sobre o tema, ele é enfático. Diz “estranhar” ler na imprensa a expressão “o ajuste de Temer”. Para o economista, o presidente em exercício começou o seu governo deixando muito clara a necessidade de uma pauta difícil de reformas para que o Brasil consiga fazer o ajuste fiscal e retomar o crescimento econômico.

Na visão de Mansueto, se esse plano falhar, é a população que sairá perdendo. “O governo pode ajudar nesse processo, mas, em uma democracia com 90% do orçamento consumido por despesas obrigatórias, ajuste fiscal envolve, necessariamente, a aprovação de medidas no Congresso Nacional”, diz. Segundo ele, a sociedade terá que fazer escolhas se quiser sair da crise. “Há anos falo isso para desespero daqueles que acreditam que existe ajuste fácil ou que tecnocratas sozinhos podem resolver o problema fiscal. Não podem”, emenda.

No entender de Mansueto, o ajuste a ser feito hoje é muito mais difícil do que o realizado por Lula em 2003. Naquele ano, a meta de superavit primário foi elevada em 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), equivalente a R$ 30 bilhões em valores atuais, enquanto o governo Temer começa com um buraco fiscal de R$ 140 bilhões, deficit acumulado nos 12 meses até março. “O esforço fiscal necessário é muito maior e em circunstâncias muito mais adversas”, ressalta. ‘Mas que fique a lição para todos que discursos e ideologia não promovem crescimento. O Brasil, para sair da crise, precisará de um debate profundo sobre o que fazer. Um debate transparente que passa, necessariamente, pelo Congresso Nacional”, complementa.

Ele destaca ainda que o ajuste fiscal implica em retomar a agenda de reformas. “Essa é uma agenda necessariamente longa. Não há como em pouco mais de dois anos desfazer os sucessivos erros econômicos que começaram em 2008/2009 e foram intensificados no primeiro governo de Dilma Rousseff. Mas dois anos é tempo suficiente para se fazer muita coisa e colocar o Brasil de volta nos trilhos”, afirma. Para Mansueto, se a sociedade não quiser fazer ajuste fiscal algum com mudanças de regras, como as de acesso à Previdência, será necessária uma carga tributária crescente. “Se aumentos de impostos forem igualmente repudiados, o ajuste será desorganizado, passando pela aceleração da inflação e o aprofundamento da crise”, sentencia.

Brasília, 12h59min

Vicente Nunes