MÁ COMPANHIA

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A proposta de Orçamento para 2016, que o governo encaminhou ao Congresso ontem, foi apresentada pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, como a peça mais realista possível. Foram gentis. O documento é um resumo do desastre que tem sido a administração de Dilma Rousseff e do custo que ela está impondo ao país. Os números são assustadores. O país terá, pelo terceiro ano consecutivo, deficit primário, quando deveria estar economizando para pagar juros da dívida pública. Já houve um buraco de R$ 32,5 bilhões em 2014, haverá rombo neste ano — a dúvida é de quanto — e a perspectiva é de que o governo feche no vermelho em R$ 30,5 bilhões em 2016. Supondo que o rombo de 2015 fique no limite previsto em documento enviado ao Congresso, de R$ 17,7 bilhões, em apenas três anos, Dilma será responsável por um deficit primário de R$ 80,7 bilhões. Em qualquer país sério, o presidente da República teria que explicar à opinião pública a razão de ter sido tão irresponsável na administração das finanças do país. As consequências desse descalabro fiscal estão nas ruas, nas fábricas, nas casas das famílias. Dilma espalhou a desconfiança, jogou a inflação nas alturas, não deixou outra alternativa ao Banco Central a não ser aumentar os juros e, por tabela, levou ao desemprego. O número de trabalhadores que voltaram à informalidade é espantoso. O total de pessoas que não conseguem pagar suas dívidas disparou. O fechamento de empresas bate recorde. Se fosse uma administradora responsável, a gerentona que foi vendida, de forma enganosa, na campanha eleitoral para o primeiro mandato não teria deixado as contas públicas desandarem. Elas são vitais para garantir um clima de normalidade no país. Finanças equilibradas tiram a pressão sobre a inflação, permitem que os juros se mantenham em patamares civilizados, estimulam os investimentos em áreas estratégicas, como educação e infraestrutura. O Orçamento de 2016 mostra exatamente o contrário. Explicita um país prestes a explodir. Dilma criou tantas amarras para os gastos que não há como reduzi-los, não na proporção que permitiria, em pouco tempo, a arrumação da casa. As despesas totais, pelas projeções apresentadas por Barbosa, vão aumentar R$ 104,8 bilhões, ou 0,4 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB). As receitas, por sua vez, crescerão R$ 76,5 bilhões, sendo R$ 11,2 bilhões por meio de elevação de impostos. O resultado disso é que os principais indicadores fiscais vão piorar, talvez, mostrando alguma reação a partir de 2019, quando Dilma já terá saído pelas portas dos fundos do Palácio do Planalto. A dívida líquida, que o governo gosta de dizer que está sob controle, saltará de 36,1% para 39% no PIB de 2015 para 2016 — isso, na melhor das hipóteses. Aumentará para 40,2% em 2017 e fechará o segundo mandato da petista em 40,1%, caindo para 39,9% em 2019. Já a dívida bruta, que os investidores levam em consideração, avançará de 65,5% para 68,4% no ano que vem. Diante desses números, não há como evitar o rebaixamento do país pelas agências de classificação de risco. A volta do Brasil ao time dos caloteiros empurrará rapidamente o dólar para os R$ 4, dará fôlego novo à inflação, agravará a recessão e detonará a vida de empresas que têm dívidas no exterior. Muitas terão de honrar integralmente os débitos no vencimento, quando o normal é rolar parte das dívidas, e aquelas que forem atrás de crédito, se conseguirem, serão obrigadas a arcar com juros extorsivos. O conjunto da obra será menos investimentos e menos empregos. Benesses Se realmente quisessem mostrar que o governo está dando o exemplo e cortando gastos, os ministros do Planejamento e da Fazenda deveriam ter mostrado uma planilha das despesas, todas abertas. As equipes dos ministérios tiveram tempo de sobra para mapear as informações. Há muito o que cortar: pessoal, viagens, remoção de servidores, benesses para apadrinhados. Certamente, muitos que hoje se beneficiam da máquina inchada alegariam que, nesses casos, estaria se falando de ninharias. Não é bem assim. O governo é perdulário, gere mal seus recursos, fecha os olhos para a corrupção – a grande e as do dia a dia. Mas acredita que a população e as empresas podem, eternamente, financiar essa farra. Era isso que Dilma faria com a CPMF, caso o imposto sobre o cheque fosse ressuscitado. Felizmente, um sopro de bom senso prevaleceu e o tributo, por enquanto, desapareceu do radar. Mas é bom ficar ligado. Gente graúda do governo acredita que um movimento patrocinado pelos governadores pode acabar convencendo o Congresso de que o dinheiro proveniente da CPMF ajudará muita gente. Para tentar esconder as mazelas que procovou nos últimos anos, usando e abusando dos recursos retirados da sociedade, Dilma pode lançar mão de outras maluquices. Por mais que o ministro da Fazenda tente dar um ar de seriedade ao governo, é importante lembrar que ele já não tem mais a influência que demostrava quando chegou à Esplanada. Na verdade, Levy se tornou uma peça acessória. As cartas estão sendo dadas pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e por Nelson Barbosa, ambos fiadores da política do primeiro mandato de Dilma, que empurrou o Brasil para o buraco. A petista, pelo que se viu e se vê, gosta de andar mal acompanhada.  Desemprego vai a 12% » Os analistas mais pessimistas já falam em taxa de desemprego de 12% no início de 2016. Acreditam que as empresas que ainda estavam na dúvida se cortavam ou não funcionários se renderam à realidade de recessão profunda e prolongada, na qual o Brasil mergulhou.

Entre os caloteiros » Praticamente toda a equipe econômica dá como certa a perda do grau de investimentos pelo Brasil nos próximos meses. As agências de classificação de risco não vão se render ao discurso de que, agora, tudo está sendo feito como manda o figurino.

Brasília, 00h01min