RODOLFO COSTA
O fogo amigo ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, tem nome e sobrenome: luta pelo poder. O próprio presidente Jair Bolsonaro admitiu isso, nesta terça-feira (28/1), no Palácio da Alvorada, após retornar de viagem à Índia. O desmembramento da pasta chefiada pelo ex-juiz federal virou alvo de cobiça por políticos, mas não é o único ministério na mira. O Blog apurou que pastas da Saúde, Educação, Casa Civil, Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento Regional são outras ambicionadas.
A Saúde, detentora do maior Orçamento entre as pastas federais em 2020, é alvo da cobiça desde o ano anterior. O titular, ministro Luiz Henrique Mandetta, virou alvo de uma escaldante fritura ao longo de 2019, mas sobreviveu. Ao menos por enquanto, como admite o próprio Bolsonaro. “Sempre falo ‘por enquanto’ para todo mundo. O único que não é ‘por enquanto’ é o (vice-presidente Hamilton) Mourão. O resto todo mundo é ‘por enquanto’”, declarou o presidente da República, nesta terça, em resposta à possibilidade de mudança no comando do Ministério da Educação.
O debate sobre a divisão da pasta chefiada por Moro entre ministérios da Justiça e Segurança Pública surgiu, mas submergiu rapidamente. Amigo de Bolsonaro, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) era cotado para assumir a estrutura da Segurança Pública, mas foi escanteado após críticas a Moro. No governo, um interlocutor levanta ao Blog suspeita sobre a denúncia de Fraga de ter tido o aplicativo WhatsApp clonado.
A desconfiança nos corredores do Planalto é que ele pode ter destacado isso como forma de pressão pelo comando da pasta. No aplicativo, tinham algumas conversas mantidas com Bolsonaro. Temas, como a recriação do Ministério da Segurança Pública estavam lá e desapareceram. Sem citar o amigo, Bolsonaro deu recados no Alvorada. “Para bom entendedor, meia palavra basta. E não faltaram palavras hoje”, destacou o interlocutor.
“O tempo todo o pessoal sempre quer uma maneira (de ganhar espaço no governo). Muitos querem dividir o MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), isso é comum. Se eu passar para vocês, vão dizer o que bem entenderem, né? O pessoal quer a luta pelo poder. O tempo todo tem alguém beliscando um ministério. Agora, pelo que eu vi, o Moro não mordeu a isca, nem eu. Continua ele com o Ministério, sem problema nenhum. Talvez encontre com ele amanhã, ou então na quarta-feira (quinta), porque o Moro, agora, se não me engano, está no Rio de Janeiro”, declarou Bolsonaro, negando a possibilidade de desmembrar a pasta comandada pelo ministro.
Noiva da vez
O Blog apurou que o Ministério da Saúde continua sendo a noiva da vez no epicentro do fogo amigo. Há um movimento sendo construído por parlamentares para destituir Mandetta e colocar em seu lugar o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), ex-ministro da pasta na gestão Temer. “O governo vai precisar compor este ano com o Parlamento se quiser aprovar as reformas que virão pela frente. O DEM já tá mandando muito”, ponderou um parlamentar.
Hoje, entre os mais tradicionais partidos da centro direita, DEM, MDB, PSDB PSD ocupam postos estratégicos na Esplanada. PP, PL e PRB, outras legendas expressivas no Congresso, não. No entendimento de alguns congressistas dessas três siglas, o governo poderia ser mais benevolente e ceder espaços no alto escalão para construir uma base. A cobrança, contudo, não deve ter muita influência.
O governo não parece propenso a retirar Mandetta por questões políticas em um momento em que o mundo discute medidas contra o surto mundial do coronavírus. O mesmo, entretanto, não pode ser dito para outras pastas. O Executivo sabe que precisa de apoio do Parlamento para importantes votações este ano, como as reformas tributária e da Previdência, mas não pensa em incluir a Saúde em uma possível reforma ministerial.
Votos
Sobram, então, as pastas do Desenvolvimento Regional, da Casa Civil e Ciência e Tecnologia, ambas também cobiçadas. Ao Blog, um congressista e uma fonte com circulação no Planalto dizem que os três ministérios têm menos resistência para uma possível mudança. Inclusive, teriam sido oferecidos ao líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO). A leitura é de que ele poderia preencher a tradicional cota do Senado, a fim de assegurar votos e apoio para matérias de interesse do Executivo, como as três Propostas de Emenda à Constituição (PEC) do ajuste fiscal em tramitação na Casa.
O senador, contudo, gentilmente declinou a oferta de assumir uma das pastas. “O Eduardo quer a Presidência do Senado, mesmo que seja daqui a três anos”, ponderou um parlamentar. Em meio às incipientes discussões de mudanças nas atuais regras para reeleger o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Gomes pleiteia se cacifar na Casa como o postulante para o pleito de 2023.