O deputado André Ventura, presidente do Chega, partido de extrema-direita em Portugal, diz que representantes da legenda estão inseridos de forma profunda dentro das igrejas evangélicas espalhadas pelo território luso, sobretudo no Norte do país.
Com essa entrada estratégica nos templos, ele garante que os evangélicos serão peças fundamentais na manifestação que o Chega está organizando contra a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Portugal, em abril próximo, para reunião de cúpula entre Brasil e o país europeu.
“Será o maior protesto contra um chefe de Estado estrangeiro que já se viu em Portugal”, propagandeia Ventura, que atuou fortemente para que a Assembleia da República vetasse discurso de Lula na sessão solene de 25 de abril, quando se comemora o fim da ditadura em Portugal.
A possibilidade de Lula falar nesse evento foi revelada pelo ministro de Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinhos, em recente passagem por Brasília. O anúncio provocou críticas até de partidos aliados do governo, por não ter sido combinada com nenhuma das lideranças do Parlamento.
Brasileiros são maioria
O número de evangélicos está crescendo fortemente em Portugal, puxado pela presença cada vez maior de brasileiros em terras lusitanas. Pelos cálculos do advogado Fernando Soares Loja, vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa (CLR), é possível dizer que, hoje, quatro em cada 10 cidadãos oriundos do Brasil que vivem em Portugal são neopentecostais.
Há, porém, quem assegure que essa proporção é maior, dada a coincidência do forte crescimento da comunidade brasileira em território luso com o aumento expressivo das pessoas que seguem tal religião. Entre 2011 e 2021, a população de brasileiros legais na terra de Cabral passou de 111,4 mil para 204,7 mil. No mesmo período, o total de evangélicos saltou de 75 mil para 186 mil, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
Não é só: das 50 igrejas abertas de Norte a Sul do país nos últimos quatro anos, 90% são evangélicas. “É uma informação surpreendente”, reconhece a professora Luísa Godinho, mestre e doutora pela Universidade de Genebra, na Suíça. Proporcionalmente, contudo, os evangélicos ainda são menos de 3% da população portuguesa, mas a tendência é de que esse grupo continue crescendo.