ANTONIO TEMÓTEO
A queda da inflação trouxe benefícios significativos para a população brasileira. Dados apresentados pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, durante audiência pública na Comissão Mista do Orçamento (CMO) do Congresso Nacional, mostram essa realidade. Conforme ele, em setembro de 2016, um trabalhador que recebia salário mínimo tinha em mãos apenas R$ 184 após desembolsar R$ 696 para comprar uma cesta básica em São Paulo. O cálculo leva em conta o piso remuneratório, que naquela época era de R$ 880.
O chefe da autoridade monetária destacou que, em setembro deste ano, no mesmo caso, sobravam R$ 296 após a compra dos alimentos. A diferença de R$ 112, disse Ilan, corresponde a uma alta de 57% após descontada a inflação do período. Se o preço da cesta básica fosse igual em todo o país, representaria adicional de pouco mais de R$ 5 bilhões no bolso dos 45 milhões de brasileiros que têm renda de um salário mínimo.
Os dados corroboram os apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números mostram que a massa de rendimento real habitual cresceu R$ 7 bilhões em setembro de 2017 em relação ao mesmo período do ano passado e totalizou R$ 188,1 bilhões. O crescimento da massa salarial é fruto da queda do desemprego, mas também da queda da inflação.
Juros bancários
Os avanços são incontestáveis, mas o país ainda está longe do ideal. O que fica claro quando analisado o custo dos financiamentos no Brasil. Mesmo com recuo de 6 pontos percentuais na taxa básica de juros entre setembro de 2016 e de 2017, que levou a Selic a 8,25% ao ano, as taxas cobradas em empréstimos continuam assustadoras. Dados apresentados por Ilan mostram que o repasse para os consumidores ainda está longe do ideal.
O crédito livre para as famílias tinha juros médios de 74% ao ano em setembro do ano passado e passou para 59,2%. Mesmo com a redução de 14,8 pontos percentuais, os brasileiros gastam mais do que o dobro que empresas com o custo dos financiamentos. No mesmo período, as companhias foram favorecidas com uma queda de 6,5 pontos percentuais, o que levou a taxa média a 23,2% ao ano. E mesmo com juros exorbitantes, os consumidores voltaram a buscar crédito, o que levou o estoque de recursos de R$ 808,8 bilhões para R$ 827,9 bilhões.
No caso das empresas, o estoque encolheu de R$ 747,1 bilhões para R$ 702 bilhões. Questionado sobre as altas taxas cobradas pelos bancos nos empréstimos a empresas e famílias durante a audiência na CMO, Ilan respondeu que a redução dos juros vem a reboque dos cortes na Selic. Ele ressaltou, entretanto, que a estabilização das contas públicas também pode ajudar nesse processo. “Além disso, toda vez que há mais garantias no sistema financeiro, as taxas também caem”, apontou.
O presidente do BC voltou a destacar a retomada do consumo, mas ressaltou que, por enquanto, a taxa de investimento ainda não subiu como o governo gostaria. “Para um crescimento sustentável, é preciso consumo, mas também investimentos. Temos um cenário internacional favorável, e fluxos seguem vindo para o Brasil”, afirmou.
Firmeza
O chefe da autoridade monetária ainda destacou que a condução firme da política monetária e a mudança na direção da política econômica foram decisivas para “mitigar comportamentos defensivos (que são comuns em ambiente de inflação elevada), reduzir as expectativas de inflação e colocar a inflação em trajetória de queda”. Ilan ainda avaliou que a dosagem da política monetária se mostrou, até o momento, adequada, com atuais expectativas de crescimento para 2017 e 2018 maiores do que as esperadas no fim do ano passado.
Segundo ele, para 2018, a expectativa é de que a inflação fique em 4,3%, voltando “devagarzinho” para a meta. O centro da meta de inflação no próximo ano é de 4,5%, com margem de 1,5 ponto percentual (inflação entre 3% e 6%). “A inflação não teria essa queda se BC não tivesse atuado de maneira firme”, afirmou. Para o presidente do BC, a aprovação de ajustes e reformas, sobretudo a da Previdência, são importantes para o equilíbrio da economia e a redução das taxas de juros no mercado de crédito.
Na prática, os desafios para que o país volte a crescer de maneira sustentável, tenha uma inflação equilibrada e gere os empregos necessários para reduzir o nível de desocupação ainda são enormes. Boa parte desses obstáculos ainda dependem de aval do Congresso Nacional para serem superados. E o compromisso do parlamento para superá-los não está claro.
Brasília, 06h13min