JUROS VÃO SUBIR ATÉ O NECESSÁRIO PARA LEVAR INFLAÇÃO À META

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O goverrno está digerindo, com certa dificuldade, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada hoje, que dá sinais claros de novos aumentos da taxa básica de juros (Selic). Há o temor de que o Banco Central esteja indo além do necessário para levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016. Mas, independentemente dos receios, há o entendimento de que não há outro caminho. Ou o BC vence essa batalha, ou o desastre econômico será muito maior do que se viu até agora.

Técnicos do governo que estiveram com integrantes do BC nos últimos dias garantem que os comandados por Alexandre Tombini estão convencidos de que o trabalho feito até aqui pelo Copom dão a certeza de que a inflação chegará em dezembro do ano que vem muito próxima de 4,5%. “Mas isso só será realmente possível se o BC continuar fazendo o que precisa ser feito”, diz um dos técnicos. “O pensamento é claro: mesmo que o Copom interrompa o aumento dos juros em julho ou na reunião seguinte, nada impede que, mais à frente, a Selic venha a subir novamente se a inflação der sinais de que está saindo da trajetória esperada pelo BC”, acrescenta.

Os mesmos técnicos ressaltam que o BC compreende a desconfiança de boa parte do mercado em relação à promessa de se entregar a inflação na meta no fim de 2016. “Realmente, é uma tarefa quase impossível, levando-se em conta que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) está encostando nos 9%. Mas todos os modelos usados pelo BC apontam que a estratégia adotada até agora foi a correta. Tanto que o BC conseguiu ancorar em 5,5% as estimativas de inflação para 2016 e parte dos analistas já vê o IPCA em 4,5% em 2017 e 2018”, destaca outro técnico muito afinado com integrantes da autoridade monetária.

A visão dentro do governo é a de que, se o BC não tivesse começado a elevar imediatamente a taxa de juros em outubro do ano passado, logo após as eleições presidenciais, certamente o IPCA já estaria em dois dígitos no acumulado de 12 meses. Mais que isso: todas as expectativas para 2016, 2017 e 2018 estariam desancoradas, comprometendo todas as possibilidades de retomada do crescimento econômico.

O BC, segundo os técnicos do governo, acredita que, ao fixar um prazo mais curto para levar a inflação à meta indicou para os agentes econômicos que não vai abrir mão de seu objetivo. “Não há esse negócio de estender para 2017 ou 2018 a convergência da inflação para a meta. O prazo é dezembro de 2016”, afirmam. Eles ressalta que todo o país aprendeu que é um erro aceitar um pouquinho mais de inflação para estimular o crescimento econômico. Com inflação não se brinca. E o BC será “perseverante” na sua empreitada, mesmo que isso resulte em uma queda maior do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.

Brasília, 11h45min

Vicente Nunes