A grande discussão hoje, no mercado financeiro, é sobre o tamanho de juro real de equilíbrio que o Brasil pode conviver sem que a inflação saia do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. O debate se justifica diante da perspectiva de que a taxa básica da economia (Selic), que está em 12,25% ao ano, poderá chegar ao fim de 2017 a um dígito, entre 9% e 9,5%. Da última vez em que o país viu a Selic abaixo de 10%, no governo de Dilma Rousseff, um surto inflacionário deu as caras, destruindo boa parte das riquezas construídas nas últimas duas décadas. O descontrole de preços foi imperativo para empurrar o Brasil para a mais severa recessão da história.
Os juros reais de equilíbrio são resultado do desconto da inflação da Selic. É o que efetivamente importa para a tomada de decisões de investimentos, sobretudo os produtivos, que fazem a máquina da economia girar. Nas contas de analistas, os juros reais de equilíbrio no país seriam, hoje, de 4% a 4,5% — baixas para o histórico brasileiro, mas ainda distantes das que se veem no mundo civilizado. Com taxas nesse patamar, acreditam os especialistas, o Brasil conseguirá caminhar tranquilamente sem que o custo de vida se torne um problema. Isso, é claro, desde que haja responsabilidade na condução da política econômica.
O que sustenta o discurso dos analistas sobre os juros reais de equilíbrio é o tamanho da recessão brasileira. Como o potencial de crescimento do país diminuiu muito, mesmo que, neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) retome o fôlego e avance, em média, entre 2% e 2,5% nos próximos três ou quatro anos, não haverá impacto sobre a inflação. Essa percepção está tão clara, que todas as projeções do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão ancoradas no centro da meta. Muitos especialistas acreditam, inclusive, que a inflação nos próximos anos pode se acomodar abaixo de 4%.
Energia e combustível
A perspectiva para a inflação está tão favorável, que as cinco instituições que mais acertam as pesquisas semanais realizadas pelo BC, os Top Five, já estão estimando IPCA neste ano abaixo do centro da meta. A projeção está em 4,07%, mesmo com a Selic encerrando o ano em 9,25%. Ou seja, independentemente de os juros caírem a um dígito, o custo de vida não será problema para a autoridade monetária. Muito pelo contrário. Os mesmos Top Five acreditam que, em 2018, quando a taxa básica deverá recuar para 8,50%, a inflação continuará próxima de 4,5%.
Nem mesmo a decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de retomar a bandeira amarela na conta de luz, o que implicará em reajuste médio de 4% nas tarifas, muda a percepção dos analistas. O impacto dessa medida no IPCA será de 0,16 ponto percentual na inflação. Esse efeito, porém, será praticamente anulado pela redução nos preços dos combustíveis e nas contas de telefone, que, juntos, devem tirar 0,15 ponto do custo de vida.
Dentro do governo, há quem acredite que o IPCA deste ano esteja mais próximo de 3% do que de 4%. Por isso, muitos não escondem a decepção com o fato de o BC não ter acelerado, na semana passada, o corte da Selic de 0,75 para um ponto percentual. Um assessor do presidente Michel Temer ressalta que, quando abril chegar, o Copom concluirá, em sua reunião, que errou ao não ter agido com um pouco mais de ousadia.
“Por sinal, estamos ansiosos pela ata do Copom da semana passada, quando os juros caíram de 13% para 12,25% ao ano. Queremos entender os reais motivos que resultaram no comedimento da diretoria comandada por Ilan Goldfajn”, diz o assessor presidencial. A ata será divulgada hoje.
Brasília, 03h01min