Juros podem cair para 12% neste mês

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Um debate acalorado tomou conta do mundo econômico desde que André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, contestou, por meio de um artigo, a eficácia da política de juros no Brasil no combate à inflação. Baseado em estudos desenvolvidos por economistas como John Cochrane, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, ele afirma que juros altos por um longo período, em vez de derrubar o custo de vida, acabam por aumentá-lo.

Lara Resende se pergunta como pode um país com dois anos seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) e desemprego de 12% (são 12,3 milhões de desocupados) continuar com juros tão elevados. A taxa básica (Selic) está em 13% ao ano — de longe, a maior entre os países civilizados —, mesmo depois de o Banco Central tê-la reduzido em 1,25 ponto percentual desde outubro do ano passado. Para o economista, a despeito de tantas justificativas, nenhuma explica, de forma consistente, tamanha distorção.

Apesar de se manterem distantes do debate público, economistas de renome do governo estão vibrando com as indagações de Lara Resende, sobretudo por mexer com os brios do BC. Apesar de reconhecerem que a atual gestão de Ilan Goldfajn vem fazendo um bom trabalho para derrubar a inflação, todos consideram importante que os atuais integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) façam os mesmos questionamentos. Será que a cartilha que sempre vigorou não está ultrapassada?

O interesse de integrantes do governo pela teoria de Lara Resende aumenta dada a proximidade da próxima reunião do Copom, em 21 e 22 de fevereiro. Com a recessão ainda fazendo estrago, sobretudo no mercado de trabalho, muitos se perguntam se não é a hora de o BC ser ainda mais agressivo nos cortes da Selic. No mês passado, o time comandado por Ilan derrubou os juros em 0,75 ponto percentual, surpreendendo parte do mercado financeiro. Por que, então, não reduzir a taxa básica em um ponto agora, para 12% ao ano?

Recessão e desemprego

Com a inflação em queda livre — até junho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar abaixo de 4% no acumulado de 12 meses —, o dólar rodando em torno de R$ 3,10 e a próxima reunião do Copom só ocorrendo na segunda semana de abril (11 e 12), talvez fosse mais prudente o BC antecipar suas ações. Mais à frente, caso se constate que algo saiu do controle, a instituição poderá diminuir o ritmo de corte da Selic ou mesmo interromper o ciclo de afrouxo monetário, o que, ressalte-se, está longe de acontecer, pois a carestia não resistiu à recessão e ao desemprego recordes.

O presidente do BC já indicou que o ritmo de redução dos juros será de 0,75 ponto percentual. Mas, desde que deu tal declaração, o quadro inflacionário melhorou mais um pouquinho e o nível de atividade se mantém muito aquém do esperado. No governo, entre os que torcem por uma ousadia maior da autoridade monetária, a expectativa é que o IPCA de janeiro, que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), surpreenda mais uma vez e fique abaixo da média de 0,47% projetada pelos analistas. Há quem aposte em um índice de 0,38%.

Historicamente, a inflação do primeiro trimestre do ano é sempre mais alta, devido a fatores sazonais, como os reajustes na área de educação. Em 2017, porém, tudo indica que os resultados do IPCA ficarão abaixo do projetado, inclusive pelo BC. Sendo assim, destaca um técnico do governo, o Copom pode aproveitar para dar uma boa notícia aos agentes econômicos. O corte de um ponto na Selic às vésperas do carnaval será motivo de sobra para comemoração.

Brasília, 06h10min

Vicente Nunes